Em Qualquer Cidade de Minas Gerais

Em Qualquer Cidade de Minas Gerais

Sempre tive vontade de registrar o meu dia a dia.Na adolescência, babava de inveja , ao ver colegas que tinham um diário.Ali escreviam seus sonhos, as mágoas , o 1º beijo e tal...Tínhamos uma situação financeira e econômica muito instável e não havia a menor possibilidade de comprar um caderno bem bonito, especial e escrito na capa MEU DIARIO. E assim , a adolescência acabou, veio a vida adulta , a super adulta e enfim cheguei na 3ª idade sem nunca ter realizado esse sonho idiota para alguns , terapia para outros e para muitos como eu ,que ainda tenham a insistência e a teimosia em alimentar a criança existente em nós . Então veio a idéia de criar um blog em que pudesse registrar o cotidiano de uma senhora idosa , sem culpas ou medo do ridículo .Hoje é bem melhor porque a gente escreve para o vento, pra gente mesmo.Totalmente irresponsável e sem compromisso de agradar ou não.Simplesmente pelo prazer de falar do seu dia a dia vivido em qualquer cidade de Minas Gerais ou qualquer espaço físico vivenciado por mim.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

MARIA ABENÇOADA



MARIA ABENÇOADA.

Lá se foi uma amiga muito e muito querida que nunca deixou de estar presente nos momentos mais decisivos da minha vida.Ela se chamava Maria e quando a conheci, logo que chegou a Valadares,dava aulas de Ioga para mulheres e seu marido dava Ioga para homens.Ela tinha sido criada pela família do marido.Seu nome, Antonio.Ele tinha fortes tendências para a vida religiosa e se preparou para seguir sua vida. Cumpriu todos as regras e estudos no Seminário e se tornou padre.Maria então, se tornou freira.Quando ele alcançou o bispado, aliás o 1º bispo no Brasil a renunciar , eles descobriram o grande amor que os envolvia.Ambos renunciaram e se uniram.Ninguém tem a menor noção de como esse casal ajudou E UNIU casais em conflito, aqui em Valadares.Só a mais ou menos 6 anos atrás, o Papa liberou o casamento de ambos pelos rituais católicos.
Imagine o sofrimento pra pessoas profundamente católicos,suportarem tal situação.
Eles começaram a crescer a partir do momento que pegaram a franquia do Finsk pra Valadares e o Professor Antonio(como ficou conhecido) dando aulas nas Faculdades de Administração e Direito de Valadares.Estavam sempre tentando e trazendo cursos para melhorar as pessoas em Valadares.Entre eles o “Control Mind”, que me fez tão bem.Através das técnicas desse curso, pude diminuir 80º do meu problema de enxaqueca.Fundaram a Escola Mariam,sem fins lucrativos, especialmente para preparar empregadas domésticas e donas de casa a iniciarem sua vida doméstica.
Quando anos mais tarde, retornaram de um longo passeio na Índia, me convidaram pra ver vídeos que de lá trouxeram , inclusive uma entrevista com Maria Tereza de Calcutá e fitas de cânticos lindíssimas para meditação,que guardo e ouço com o maior carinho.
Eram muito ecléticos.Respeitavam e colaboravam com movimentos Espírita, budismo, Seicho-no-ie ,Ioga e palestras evangélicas .Quando fizeram reforma na linda casa que moravam, fizeram de um cômodo, uma linda capela com todos os aparatos de uma pequena igreja católica.
Algo que nunca poderei esquecer foi quando da morte da minha mãe.Maria veio a minha casa na véspera da ida da mamãe.Ela me perguntou: ¨você precisa de algo? Posso ajudar em alguma coisa?¨ Respondi:¨não, muito obrigada,pois está tudo sob controle¨. Ela então fez um cheque e disse: “ vou deixar um tanto aqui e se precisar use-o, pois estou apenas sendo instrumento”.
Agradeci e o coloquei,sem mesmo ver quanto era de tão embaraçada que fiquei , embaixo de um adorno .No outro dia minha mãe se foi e quando meu filho me disse quanto era, todo aquele ritual de caixão,sepultura e tal, falei pra ele: Pega o cheque da Maria e vê se ajuda.Ele obedeceu e falou: “ mãe não só ajuda mas dá pra cobrir tudo”.Foi um grande alivio pois estava numa situação difícil, já que não tínhamos nenhum plano de saúde naquela época.Então posso dizer, ser a Maria um anjo enviado por Deus.Como ela apareceu justamente nas vésperas da ida da mamãe?Como ela sabia o total de dinheiro gasto em um funeral?No enterro da mamãe, lá estava ela rezando comigo o salmo 23, o preferido da minha mãe.
Seu aniversário era 14 de abril.Nesse dia, nas minhas meditações,sempre a imaginava coberta por uma luz faiscante roxo batata e sorrindo.Quando podia, enviava flores com apenas os dizeres: OBRIGADA.
Nas nossas discussões, falamos muito sobre o além morte.Por isso sei que ao acordar em outra dimensão,ela continuará seu aprendizado com energia diferente, substituindo a emanada pelo seu corpo físico nessa dimensão.PAZ E AMOR NA CONTINUAÇÃO DO SEU VIVER DIFERENTE.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011



Milagre Gozador de Santo Antonio.


Tive muita sorte em ter encontrado na minha vida profissional 2 diretores de escola bem diferentes de todos os que passaram por mim.A minha 1ª diretora realmente se interessava por professores que gostasse e tivesse bastante interesse por crianças.Ela priorizava muito aquele professor que arrumava tempo e fosse in loco saber o motivo de faltas e doenças dos alunos.No caso de doenças, tentasse consultas de cortesia e remedios gratuitos pra que retornassem as aulas.Fiquei com ela 5 anos initerruptos, sendo o último ano, dando aulas na área do recreio e cantina, pra que não ficasse desempregada, pois a partir daí, os contratos seriam feitos exclusivamente pela Delegacia de Ensino e não mais diretores de escola.
Como professora contratada, o meu maior medo, quando começava o mês de novembro, era se conseguiria contrato para o próximo ano.Os requisitos oficiais eu nem olhava,pois sabia que na prática funcionava assim: 1º requisito era nenhuma falta; 2º, seguir na íntegra as SUGESTÕES vindas da Secretaria do Estado da Educação no seu planejamento; 3º, diários bem feitos; e por último, seu desempenho e competência.Poderia até faltar os últimos requisitos, mas se fosse sempre presente e tivesse diários que não trouxessem nenhum problema pra secretaria,o lugar estava garantido.
Nos bastidores você teria de estudar um manual de DIPLOMACIA, pesquisado por você mesma,sem ninguém saber.Os estudos feitos que eu fazia a respeito, faria inveja a qualquer candidato pleiteando um cargo de diplomata, embaixador ou cônsul.Os colegas eram de níveis variados e por qualquer comentário “inadequado”, poderiam tomar não como algo profissional, mas sim pessoal e se sentiam muito ofendidos.TODO CUIDADO ERA POUCO...
Então, como devota de Santo Antonio,fiz uma trezena para quando saísse da 1ª diretora, tivesse emprego garantido.Se é coincidência ou não, o lugar pra onde me destinaram era NO BAIRRO SANTO ANTONIO E O NOME DA ESCOLA ERA ESCOLA ESTADUAL SANTO ANTONIO.Dá pra acreditar?
Essa escola ficava bem no alto de um morro bem íngreme.Você tinha de subir a pé,encurvada pra frente,pois se ficasse ereta, corria o risco de cair virada pra trás.Sua subida a pé, demorava 24 minutos.Meu horário era 12:45 em sala.Tinha de levar sombrinha, pois o sol em Valadares nesse horário fica muito zangado.O calor ali devia ir pra 45 graus.Quando chegasse lá em cima , se alguém pusesse a mão na sua boca com certeza você cairia desmaiada.
Então, tinha de deixar o carro lá em baixo.O problema maior era quando chovia.Como o morro era de terra batida,com a chuva ficava igual a estrada de quiabo.Subia uma passada e escorregava 4 pra trás.Logo contratei os serviços de um garoto que se apegava nas folhagens da beirada do caminho, segurando um cabo de vassoura numa ponta e eu na outra ponta.Ele me levava assim até lá em cima.Nesses casos, quando o caminho virava uma cachoeira de lama, tinha de levar embrulhado num plástico, roupas limpas pra se trocar antes de entrar em sala de aula.
Quando se notava temporal se formando, a diretora soltava alunos e professores mais cedo.Num desses dias escuros e raios caindo pra todo lado, e um bando de professores correndo caminho a baixo com medo dos raios pegarem algum tronco de árvore servindo de poste da luz elétrica,gritei bem alto:É SANTO ANTONIO,O SENHOR NÃO ME PEGA MAIS NÃO.NUNCA MAIS VOU FAZER TREZENA, NOVENA OU QUALQUER OUTRO PEDIDO.Muita sacanagem...
E assim, trabalhei 5 anos nessa escola

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Minha Mãe e Meu Padrasto




Minha Mãe e Meu Padrasto

Meu padrasto era português naturalizado.Quase em todos os natais da minha infância,o poder da sua cultura nos alcançava.Minha mãe, meu irmão e eu.Ele mandava tudo aquilo de que tinha sido acostumado a comemorar nessas datas.Então, recebíamos sacolas de nozes,que quebrávamos no vão da porta. (abríamos a porta e colocávamos as nozes ou castanhas na dobradura e ao fechar aporta, elas se quebravam), as castanhas cozidas pela minha mãe, doces secos tipo figos e outros tão comuns na terra dele, Portugal.Ele trabalhava com exportação de café e cacau.
Houve uma época em que o funcionário que trabalhasse mais de 10 anos numa firma, se tornava sócio de tal firma.Era o caso dele.Então seu contato com navios era intenso e daí, ganhávamos caixas e mais caixas de leite em pó,aveia, frango e doces enlatados.Eu adorava.Sempre tínhamos mingau de aveia de manhã.Não posso me queixar da minha alimentação durante minha infância.Dava boas vindas a tudo que pudesse me livrar, um pouco, das verduras da mamãe.Ela tinha o que se chama de ¨dedo verde¨.Qualquer pedaço de terra, ela logo transformava em pequena horta.Me lembro de uma parreira de chuchu enfeitando um pedaço do quintal e dava tanto chuchu, que eram dados para os vizinhos da rua e tínhamos de consumir xuxú quase todo dia.Ela até inventou uma moqueca de ovos com chuchu.Como sabia plantar, tínhamos alface,maxixe,couve,tomates cenouras e etc.Mesmo assim,eu continuava a reclamar, pois diariamente , comíamos peixe (era o mais barato.Raramente comíamos carne de boi pq era muito e muito caro),e o frango enlatado era só para os domingos.
O meu padrasto era um bom homem.Ele amava minha mãe e devido a esse sentimento,se preocupava muito comigo.Me lembro ao terminar o admissão para o ginásio, ele chegou em casa anunciando ter me matriculado numa escola de datilografia. Até pouco tempo,ainda tinha o certificado de término do curso.Engraçado ter estudado algo tão importante naquela época, hoje totalmente obsoleto.Eles se desentendiam, brigavam mas daí a pouco estavam novamente juntos.Ele se preocupava com minha educação e assinava tudo que fosse documento escolar.Mamãe só quis se mandar pra roça novamente, quando ele escorregou na bola e teve um caso com uma amiga sua.Nunca mais minha mãe foi a mesma.O seu sonho era arrumar um modo de ficar independente e deixa-lo.Como só sabia trabalhar na roça, ficava tentando voltar, porém tinha eu estudando, como faria?Me sinto muito responsável por ela ter continuado com ele.Não pela situação em si pois vejo traição nos relacionamentos como algo muito físico, sem nada a ver com o coração.Mas pela cabeça da minha mãe, isso de infidelidade, não caberia. E mesmo se violentando, teve que continuar ao lado dele.
Ela era uma mulher de muita fibra.Aprendeu a ler praticamente sozinha ,tal a ânsia que tinha em saber ler.Iniciou prestando atenção nos sons da grafia das letras na bíblia.Alguem explica aqui, outros explicam dali e assim,lia vagarosamente pra mim, histórias e mais histórias..Sim porque quando entrei pra escola ela já sabia ler, muito vagarosamente mas lia.Meu padrasto colaborava trazendo livros de histórias para crianças com letras grandes.Além disso ela tinha um dom pra contar história.Era uma delicia ouvi-la contando suas histórias de vida ou que ouvira da vovó Brasilina.
Mamãe tinha noções fortes de economia doméstica e aproveitava tudo.Os ternos mais velhos do meu padrasto eram transformados,após virarem do avesso, em taier,ou seja,a calça virava saia e o paletó o casaco.(taier naquela época corresponderia a saia e blaser de hoje).Sacos de estopa, viravam lindos tapetes em ponto de cruz sempre com motivos de animais.Minha s calcinhas intimas eram feitas de sacos de trigo lavados, alvejados e enfeitados nas beiradas com cianinha ou ponto russo.Ela fazia ponto paris pra fora.Cobrava por metro.Também se orientava pelas revistas da época, Jornal das Moças e FonFon.Acredito de tudo isto ter atraído meu padrasto com nível de estudo bem mais elevado.Quando ele esteve em Portugal,trouxe uma imagem da Senhora de Fátima em forma de uma caixinha de música.Era uma imagem linda que no escuro brilhava tanto que poderia servir de abajour.Juntava gente da vizinhança pra ver a imagem que brilhava no escuro.Era algo inexistente aqui no Brasil.Quando dava corda tocava o hino de Fátima...¨há treze de maio na cova da Iria apareceu brilhante a Virgem Maria...¨Esse presente chegou exatamente quando mamãe pensava seriamente em deixar meu padrasto.Porém, foi ele quem a deixou para a grande viagem após anos e anos mais tarde.Logo depois meu marido também fez a grande viagem e então mamãe veio morar comigo.Após 12 anos comigo ela também fez a grande viagem.Na véspera da sua viagem,rimos muito e eu lia as histórias de contos de fada que tanto gostava..Relembramos as músicas da Carmen Miranda que ela cantava tanto e eu encenava e fazia palhaçadas imitando-a. Ela ria tanto que pediu o remédio pra dormir.Eram quase 3 horas da madrugada. Suas últimas palavras foram: “ filha vai descansar, estou com a boca doendo de tanto rir. Deus te abençoe”Daí entrou em coma que só descobri as 4 horas do dia seguinte.E assim ela se foi.Pensei não conseguir sobreviver sem sua presença.Mas...ainda estou por aqui.De vez em quando sinto sua presença tão forte,principalmente quando acordo de manhã.Acordo com a sensação de ter mais gente aqui.Por segundos esqueço que ela se foi.