
DIA 8 DE MAIO DE 2007
Estou desde as 3 horas da manhã tentando dormir.E olhe que tomei remedinho para dormir.Cochilava até as 4 e novamente acordava de todo.As 5 horas a mesma novela.Parecia remédio de hora em hora.Lá pelas 6, levantei de vez e tomei banho, fiz um café e comecei a refletir.
Será que era porque tinha mais de quatro atividades pra resolver durante o dia, antes do trabalho? Era assim mesmo aos 66anos?Ou seria Medo do futuro?O que era afinal?
Comecei pelas atividades que teria que desenrolar.Já sabia pelo recado da secretaria eletrônica, alguém de um banco querendo me contatar..Assim que sorvi a 2ª xícara de café tentei informações pra saber da existência do tal número. A telefonista resumiu com outro numero bem diferente e foi a conta pra ficar aflita.Daí surgiram mais uns 6 telefonemas pra se chegar a conclusão do banco estar oferecendo uma promoção de empréstimo para clientes especiais.Especiais aqui quer dizer: funcionário público onde o pagamento de tal empréstimo é descontado direto nos contra-cheques.Até a minha negativa, este processo todo demorou mais ou menos 2 horas e meia.Resolvido o problema, passei pra próxima atividade me dirigindo para sessão de fisioterapia para o meu ombro fraturado em um acidente em sala de aula. Nestes momentos não sentia nenhum prazer de viver sozinha, pois sou destra e inútil da mão esquerda.Não tinha a menor intenção de incomodar amigos ou pedir favores que ficaria o resto da vida pagando e nunca terminaria a dívida.Outro desprazer de se viver sozinha.
Ao chegar à clinica iniciei meus exercícios e senti energia triste no ar.Dona Laurinha, minha companheira de horário,é uma senhora de 84 anos, muito alegre e conversada.Ela traz licores de frutas, juntamente com receitas pra gente experimentar.Precisa ver o orgulho ao passar e explicar as receitas.Foi funcionária pública a nível federal, e agora aposentada.Estava sempre tecendo algo.Ela Se tornou o alvo da minha admiração devido ao seu alto astral.Mas hoje ela está muito abatida e óculos escuros(pra esconder o inchaço dos olhos de tanto chorar), os movimentos corporais estão lentos e desanimados.É como quisesse estar invisível. Sem saber bem porque me deu uma vontade de abraça-la e passar as mão sobre sua cabeça.Se seguisse meu impulso diriam ser eu alguma louca,afinal só a conhecia a 2 meses dos exercícios , nem sabia onde morava ...A fisioterapeuta me falou de modo bem discreto que ficara sabendo do que ela enfrentou, frente ao juiz, os dizeres brutais e humilhantes dos netos, filhos de uma filha morta em acidente.Tinha sido tão forte que repercutiu entre as autoridades que a conhecia e sabiam da sua dedicação em relação aos netos.As vezes os jovens podem ser muito cruéis com os idosos...e, ali estava uma idosa solitária de 84 anos, machucada, infeliz e muito, muito triste.
Oh! Meu Deus, o dia ainda estava pela metade e eu já tinha participado de vários momentos conflitantes...Pra fechar, a secretaria da clinica me informou que meu plano de saúde não cobria mais de 40 sessões de fisioterapia.Então ou teria de parar com os exercícios ou pagar mais 10 sessões com dinheiro.Imagine! Iria parar, pois boa parte do meu salário vai para o plano de saúde...
Me recuso a apagar da minha tela mental os finais felizes da velhice.Na minha tela está: um casal de velhos que caminharam juntos sendo recompensados pelo tanto que fizeram para os seus filhos,para os seus semelhantes e o quanto contribuíram para sua nação.A velhinha tem sempre um sorriso bonito ,como a dona Laurinha, suas mãos ainda ágeis,tecem qualquer coisa numa confortável cadeira de balanço,e ,muitos descendentes a sua volta ouvindo com respeito e gratidão suas experiências. O velhinho companheiro com olhar terno e amoroso se deliciando com este quadro.Na minha tela mental há um clima de segurança e amor.
Não quero ver velhinhos sozinhos,solitários,com dor,sem condições dignas de sobrevivência. Por favor, Deus não deixe que eu perceba ou veja. Me torne mesmo bem alienada,pra não captar a desesperança,as famílias aleijadas(sempre faltando alguém) e a tensão se acumulando e levando tantos finais a se abreviarem.Seja lá o que não me deixou dormir se afastará e vou dormir com minha tela bonita de finais lindos para os da minha idade, e de preferência com planos de saúde que cubram todas as sessões de fisioterapia.
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