Em Qualquer Cidade de Minas Gerais

Em Qualquer Cidade de Minas Gerais

Sempre tive vontade de registrar o meu dia a dia.Na adolescência, babava de inveja , ao ver colegas que tinham um diário.Ali escreviam seus sonhos, as mágoas , o 1º beijo e tal...Tínhamos uma situação financeira e econômica muito instável e não havia a menor possibilidade de comprar um caderno bem bonito, especial e escrito na capa MEU DIARIO. E assim , a adolescência acabou, veio a vida adulta , a super adulta e enfim cheguei na 3ª idade sem nunca ter realizado esse sonho idiota para alguns , terapia para outros e para muitos como eu ,que ainda tenham a insistência e a teimosia em alimentar a criança existente em nós . Então veio a idéia de criar um blog em que pudesse registrar o cotidiano de uma senhora idosa , sem culpas ou medo do ridículo .Hoje é bem melhor porque a gente escreve para o vento, pra gente mesmo.Totalmente irresponsável e sem compromisso de agradar ou não.Simplesmente pelo prazer de falar do seu dia a dia vivido em qualquer cidade de Minas Gerais ou qualquer espaço físico vivenciado por mim.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Registro de Nascimento


O Registro de Nascimento

Você tem ´arvore genealógica? Não? Não sabe dos seus antepassados? Suas origens? Nem o básico? Mãe, Pai?
Se vc é deste século ,talvez isso não tenha o menor peso.
Mas se nasceu no ano de 1940,isto é, no século passado, aí, não parece muito simples ou comum, até começar a estudar em escola publica.Quando se matriculava numa escola nos anos de 1946 ou 47, e alguém ou todos podiam ter acesso a secretária da escola, teria alguns problemas.
Os problemas surgiam quando no seu registro de nascimento, constava apenas o nome da mãe.Na linha pertencente ao pai, ficava em branco.
Por que será, pelo amor de Deus, não poderiam pensar ser alguma virgem que por obra do Divino Espírito Santo, deu a luz a um anjo?Não naquela época.Ali,naquela linha em branco sem o nome de um homem queria dizer o seguinte da coitada da mãe: mulher sem princípios,pobre, rejeitada por alguém do sexo masculino,sem família para defende-la,baixo nível intelectual, não soube lutar ou morrer para defender sua honra. Literalmente era a escória da sociedade daquele tempo.Quando isto era alastrado por algum professor ou aluno mais atrevido que tivesse acesso as fichas da secretaria,então vc teria sua marca bem registrada. Seria apontada com o dedo.Como eu não entendesse direito o que acontecia, era obrigada a desconfiar de algo muito estranho no reino da Dinamarca.Se a diretora da escola a escolhesse por simpatia ou piedade para eventos da escola,então correria sério risco de ser apedrejada na saída da escola. Seria o bullying que acontece no momento?Acredito que sim, embora na atualidade, se tenha poucos registros no ensino de 1ª a 4ª série, por algum motivo que não quero comentar.Os registros mais assíduos ocorrem a partir da 5 ªe 6ª série.
No meu tempo era discriminada não pelo físico ou algo em mim,mas por falta da escrita de um nome do sexo masculino, numa linha que vinha em branco num pedaço de papel me identificando..Faltava o nome de um homem.pra colocar numa linha destinada taxativamente por um homem, em um papel de registro de nascimento.Ninguem tem nem noção das situações constrangedoras resultantes de tal fato.Resposta errada era ovacionada pelos colegas com os dizeres...”è a sem pai ¨ ...de mãe vadia....Eu não sabia bem do que se tratava , mas sentia algo contra minha mãe.Então, voava em cima do agressor e mordia dava tapa, e chorava sem nem saber direito do que se tratava.Em casa,minha mãe,ficava angustiada por me ver arranhada e despenteada querendo saber o que acontecera.Por instinto, sabia não poder contar o ocorrido.Sentia sem saber , do machucado triste que causaria.Nos duas,sem defesa ou ninguém por nós.Então mentia descararadamente:ah! Foi o menino que me acusou de ter pego sua caixa de lápis de cores...., Nesses momentos,surgiu um anjo da guarda na forma física da diretora de nome Isabel.Ela sabia da minha mãe não saber de nada ocorrido na escola,quando conversava com ela.Acho, que a partir de tais conversações com minha mãe, a Dona Isabel entendeu que eu tinha de agir mais como uma protetora e não como protegida.E ela devia ficar imaginando como uma criança de 6 a 7 anos poderia ter este tipo de comportamento.E assim, se tornou meu anjo de guarda ferrenho.
Graças a ela, a diretora da escola , fui amparada,protegida e guardada contra violências dos colegas ou professores mais insensíveis.Não podia completar exercícios sobre árvore genealogica e nem saberia explicar o porque da inexistência do pai.Porém, mais tarde quando fiquei sabendo da história,bati palmas pra minha mãe, que tinha se recusado a usar o fato da gravidez, para impor alguma responsabilidade, ou por decisão, achar que eu merecia alguém de peso para constar no meu registro de nascimento.E olhe ser a minha mãe, criada na roça, nunca tinha ouvido falar em ética ou definir dignidade.E assim, terminei o primário e admissão em escola pública para o ginásio com certidão de nascimento sempre incompleta.

2 comentários:

  1. nossa! fiquei alguns dias sem visitar o blog e encontro 3 novas histórias... Q legal! sinal de tempo disponível e criatividade em expansão... muito bom!

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  2. Olá, Nelly querida!
    Estou daqui imaginando quanto sofrimento para essa criança tão pequena e já tão grande de coração... Fez bem a Diretora em se tornar o seu anjo da guarda.
    Abraços com carinho da amiga,
    Sônia Maria

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