Em Qualquer Cidade de Minas Gerais

Em Qualquer Cidade de Minas Gerais

Sempre tive vontade de registrar o meu dia a dia.Na adolescência, babava de inveja , ao ver colegas que tinham um diário.Ali escreviam seus sonhos, as mágoas , o 1º beijo e tal...Tínhamos uma situação financeira e econômica muito instável e não havia a menor possibilidade de comprar um caderno bem bonito, especial e escrito na capa MEU DIARIO. E assim , a adolescência acabou, veio a vida adulta , a super adulta e enfim cheguei na 3ª idade sem nunca ter realizado esse sonho idiota para alguns , terapia para outros e para muitos como eu ,que ainda tenham a insistência e a teimosia em alimentar a criança existente em nós . Então veio a idéia de criar um blog em que pudesse registrar o cotidiano de uma senhora idosa , sem culpas ou medo do ridículo .Hoje é bem melhor porque a gente escreve para o vento, pra gente mesmo.Totalmente irresponsável e sem compromisso de agradar ou não.Simplesmente pelo prazer de falar do seu dia a dia vivido em qualquer cidade de Minas Gerais ou qualquer espaço físico vivenciado por mim.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

MEU ENVELHECIMENTO

       Realmente continuo arredia e adorando a minha solidão.Sabe uma criança de férias com o mundo todo pra fazer o que quiser?Assim estou eu.O mundo aqui quer dizer minha casa. Ninguém pra censurar como por exemplo,começar algo e parar pra ver um filme na TV, ler despreocupada sem interrupção,falar sozinha comigo mesma e ninguém por perto pra dizer que estou doida, comer chocolate em paz sem ouvir  “cuidado!Cade o regime?Já parou?”, Evitar (solicitação médica) noticiários de tragédias e ouvir musica na santa PAZ DE DEUS. 
          Estava me acabando com tanta noticia de violência, estupros,injustiça e tal.Ficava com taquicardia, chorava  e chorava.Parecia ser eu a responsável por tanta tristesa.Acredito que tal fragilidade é o resultado da minha idade.É isto.Estou velha e pronto.
            Como também com a velhice, veio algo que só reconheço escrevendo.Falar não.Estou ficando PREGUIÇOSA.Ponho a culpa na desintegração das cartilagens,na hérnia de disco, no glaucoma e sei la mais o que, porém vejo mulheres com mais idade que eu com toda energia e animação.Continuam trabalhando fora e dão conta do serviço
doméstico, netos e tal.Seria questão de genética?Sei não...
               Outra coisa do meu envelhecimento é a mudança do sentir na morte de alguém.Antes, ficava
muito sentida e chorosa com a grande viagem sem volta de amigos.Ainda fico abalada mas com um atenuante de daqui a pouco vou eu.Não uso mais o NUNCA MAIS vou ver...nunca mais fazer planos, conversar ou tocar fulano ou fulana.Agora digo simplesmente “ Até logo”.Acho que  agora percebi a caída da ficha.Agora entendo como tudo passa depressa.Outro dia mesmo eu era e fui tantas coisas nesses 75 anos e agora,descobri que via cada inicio e fim das tantas fases,com duração muito prolongada.Cada reinicio de novo ciclo, era , na época, uma eternidade.Porém no momento,percebo a grande velocidade de cada fase vivida.Talvez queira, nos meus intervalos, relembrar momentos divertidos e prazeirosos com entes queridos que já se foram.Então, na verdade, nunca estou só.Tenho varias vidas vividas junto a mim.Tenho a minha historia que por sinal ,embora trágica,foi muito divertida.Daí a preferencia de estar só.
       E também vem a pretensão de me achar excelente companhia.Adoro conviver comigo mesma.Sei...sei e sei que o egoísmo corre solto, porém não quero me dividir com outros seres físicos.Esqueci de dizer dos meus amigos espirituais divertidos e vez por outra estão junto a mim e me proíbem de fazer comentários a respeito.Paz para todos.
             

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

UMA CERTA RUA DO COMÉRCIO

          UMA  CERTA  RUA  DO  COMÉRCIO


      A Rua do Comércio ficava localizada no centro de Vitória, capital do estado do Espirito Santo,  e se estendia por vários quarteirões. Neles, sobrados quase idênticos, lado a lado, se instalavam parecendo mais pessoas do que construções,  observando os terrenos vazios a sua frente.Nesses espaços vazios, vez por outra eram ocupados por parques de diversões ou circos.Os sobrados dessa rua além de serem quase iguais na sua construção, tinham também funções semelhantes, ou seja, em cima residências com pequenas varandas e embaixo as lojas ou escritórios.Nesse caso,  a parte de baixo de onde morávamos era toda destinada a negócios de exportação de café e cacau.
            O movimento era muito intenso durante o dia com tantas carroças abarrotadas de sacas de café puxadas e mantidas por animais sofridos e chicoteados pelos carroceiros. Eu me encolhia toda ao ouvir o  estalar dos açoites raivosos nos lombos dos animais sem defesa, que davam como resposta a obediência e resignação.
            Naquele ano de 1944, tinha eu 4 a 5 anos e assistia tudo da sacada verde do sobrado.Mesmo sem um entendimento ainda definido, ficava incomodada com a situação dos animais. Hoje fico imaginando como teria ficado bem contentinha se tivesse um dia, chegado na sacada e visto o carroceiro no lugar do animal, amordaçado  por um cabresto,puxando toda aquela carga e levando chibatadas nas nádegas .
      Sem levar chicotadas de chicotes, mas dos olhares de quem os tivessem pagando, surgiam então, os carregadores. Sempre muito apressados, quase correndo, na sua maioria negros, descalços  e de torço nú.Eles descarregavam das carroças sob sol escaldante, sacas e mais sacas de café  para o escritório ou vice versa  e  pareciam indiferentes das marcas quase em sangue nos seus ombros suados, como também nem imaginavam da preciosa carga, ser  talvez, responsável pela movimentação econômica e financeira daquela rua  e do Estado.
         Quando o dia ia terminando dando inicio ao anoitecer, as lojas e escritórios baixavam suas portas.Os movimentos iam diminuindo até o ponto de só se ouvir algum trotar aqui e ali, de cavalos,raríssimas buzinas de carros e os passos de alguém  vindo e indo.Então toda a rua emudecia. e os  sobrados trancavam as janelas das suas varandas, como  pálpebras dos olhos se fechando para descansar num grande sono.A ausência de altos edifícios e a pouca iluminação naquela rua, punha em evidência o brilho das estrelas no céu.E era pra lá que os meus olhos se dirigiam quando se esqueciam de mim na varanda verde do sobrado.Esse olhar constante  para o alto só era desviado, no momento em que a luz  encantada de algum parque de diversões, se manifestava através de não sei quantas lâmpadas coloridas formando um pisca- pisca fascinante.Nesse exato momento, os auto falantes começavam a cumprir a sua missão de completar a propaganda de chamada nas ruas. Então,emitiam ondas sonoras que iam se infiltrando, preenchendo os sobrados, em forma de músicas até hoje presente no meu imaginário de modo nítido e forte.Músicas e mais músicas até fechar o parque, quebravam o tudo igual daquela rua.Era como se fossem raios de luz se expandindo, penetrando cada vão das construções, dos quartos, e, mesmo já sendo carregada, meio dormindo, mesmo assim, atingiam meus ouvidos como me embalando pra dormir.Durante o tempo que ali permaneciam,os sons musicais alto e em bom tom, dos sucessos da época, foram minhas canções de ninar.De vez por outra,  aos 74 anos, me pego cantando a valsa Farolito  e Será do cantor Carlos Galhardo.
                Qualquer criança que assistisse,  do inicio até a noite de estréia,da sacada de qualquer sobrado, a evolução da montagem de um circo ou parque de diversões, teria para sempre viva, a sua criança interior.Era o meu caso.Durante dias e dias , acompanhava todo o movimento do pessoal artista, o estender e pregar lonas e o sistema de iluminação, no caso de ser um circo.Ou, se fosse um parque de diversões, a montagem da roda gigante, do carrocel, as cadeirinhas de balanço que rodopiavam e as barracas de jogos.
                Passamos a morar no sobrado a partir do momento em que o meu padrasto resolveu se unir a minha mâe.Isso lá pelos anos de 1942 e 1943.Ele era viúvo e morava com seus dois filhos.Hélio de 15 ou 16 anos.César,mais ou menos 19 anos.O Hélio era a figura típica do adolescente atual.Brincalhão, conversado e fazendo força para se adaptar á rigidez e seriedade do pai e irmão mais velho.O Cesar completava sua aparência de seriedade e responsabilidade com uso constante dos óculos.O bedecia a risca as regras sociais e não deveria se sentir muito a vontade com o comportamento do seu pai, trazendo uma mulher pra dormir no mesmo quarto.Eu? Dormia em berço esplendido(era um grande berço mesmo), o sono dos anjos, no mesmo quarto do meu padrasto com mamãe.Sempre me lembro do César com uma cadeira na mão, insistindo para minha mãe(sempre recusava) se sentar ao meu lado, à  grande mesa nas principais refeições.Pra ele, defensor dos bons costumes, uma mulher fazendo todo o serviço doméstico e a noite dormindo no mesmo quarto do dono da casa,seria a dona da casa.E assim ele a apresentava para quem chegasse.¨Essa é a mulher do meu pai.¨Minha mãe? Se sentia constrangida e discretamente sempre ficava a margem de qualquer situação que envolvesse pessoas estranhas.Não conseguia e nem queria deixar de pertencer as suas origens de agricultora.Eles a admiravam pela transformação  do imenso quintal. De feio e cheio de lixo virou uma esplendorosa horta, com canteiros e covas organizados de verduras e legumes lindo de se ver.O César dizia ter ela dedo verde e dom especial de lidar com a terra.Daqui pra frente vou me referir ao César, com apelido carinhoso nomeado pelo Hélio: “ O PRESIDENTE”.
              Então, se passasse do horário estipulado, ou algum comportamento inadequado, Hélio chegava pé ante pé e me perguntava:¨o Presidente já chegou? Ele ta ai?¨Era minha função responder com aceno de cabeça sim ou não.
                O Presidente trabalhava e estudava.Hélio só estudava no Colégio Salesiano.Sem dinheiro pra comprar o que o irmão tinha,sapatos,ternos, e camisas, ele usava sem remorsos tudo do irmão, sem ele saber.Quando o Presidente precisou dos novos sapatos, ainda na caixa e, seus ternos mais importantes para um grande evento, constatou dos seus novos sapatos estarem com ameaça de buracos de tanto uso.Seus ternos, sujos e amarrotados.Chegou na sala de jantar, desesperado e bufando chamou minha mãe.Quase gritando falou: “...onde ele está?Quero enfiar isto na cara dele.”.Minha mãe, muda estava, calada ficou.Ele esperou pelo meu padrasto pra se responsabilizar pelo prejuízo.Não me lembro no que deu.Só sei, se não me falha a memória , do Hélio ter dormido na casa de um parente naquela noite.
                 O primeiro Natal da minha existência foi preparado e alimentado pelo Hélio.Ele punha um copo de água no vão da janela e falava solenemente: ¨Se você deixar de chupar dedo e for boa menina, Papai Noel beberá a água e trará presentes.Se ele não beber...nem adianta esperar...¨Não sei como ele fazia pra esvaziar o copo sem eu perceber.Só sei da força feita pra não chupar meu polegar.E, ao encontrar um presente ao lado do meu berço, em plena manhã de Natal, meu coração disparou.Rasguei sofregamente o embrulho e dei de cara com uma grande e linda boneca sorridente. O rosto, as mãos e os pés de louça e o corpo de pano.Deslumbrada seria o termo certo para meu estado.Foi a minha 1ª boneca e segundo Hélio se chamaria Xandoca.Logo depois do Natal fiquei com sarampo e o Hélio pintou a Xandoca de pintinhas vermelhas em sinal de solidariedade.Muitas saudades...saudades...muitas.Minhas primeiras noções sobre o Natal foram bem positivas graças ao Hélio.Foram três natais durante a minha estadia naquela rua.No segundo Natal ganhei um lindo bercinho com um bebe dentro.No terceiro foi a glória, um pequeno piano que tocava.Tinha visto a filha do vizinho tocando um.Quando perguntaram o que eu achava que o Ppai Noel traria...respondi prontamente: ¨um piano igual ao da Emilia¨.Mesmo com os rituais e garantias do Hélio do Papai Noel saber até dos pensamentos das crianças,fiquei ansiosa e temerosa de ser esquecida.E assim ,lá pelo escuro da  madrugada, acordei e meio sonolenta, passei a mão onde estavam meus sapatos a espera, no lado da cama, para confirmar.Lá estava ele.Toquei forte nas teclas.Confirmado.Virei para o outro lado e com grande suspiro de satisfação continuei a dormir.No café da manhã,todos comentavam terem sido acordados no meio da noite com o som do piano.E riam, e riam muito.Nunca mais os meus natais foram os mesmos.Impossivel não me lembrar com muita alegria e agradecimento, por ter vivido  esse período “divisor de águas” naquela rua.É como se eu passasse a existir a partir daí.Não tenho a menor lembrança infantil do antes da Rua do Comércio.

UM  IRMÃO DE NOME HÉLIO

       Todas as manhãs, enquanto mamãe preparava a farta mesa do café,o grande rádio(do tamanho de uma tv 29 atual), era ligado para se saber noticias da guerra.Me lembro das propagandas nos entremeios das noticias.Quase todas imitadas pelo Hélio e entre elas, a do azeite de nome Maria.Vinha numa lata quadrada com a estampa de uma bela mulher...Então o locutor batia na mesa com três toques e dizia:¨Maria sai da lata¨.Hélio batia três toques na mesa do café e substituía o nome Maria pelo meu nome, o da mamãe, meu padrasto e até do Presidente.Outra propaganda surgia com a voz de um tenor de ópera cantando ¨ai...ai...ai que dor no fígado, tralalála la ...tralala lá...tralalalá...¨,aí vinha o nome do remédio para o fígado.Todos ríamos muito.Dizem que eu até gargalhava com as imitações.Embora amenizada pelo Hélio,foi uma época difícil, principalmente para os alemães e descendentes residentes em Vitória.Presenciei, da sacada de onde morava, alemães serem espancados  e xingados por multidões.Nesses momentos, o Hélio me arrastava da sacada, fechava todas as janelas que davam pra rua.
           No ano de 1945, no mês de abril, morre o Hitler.Eu tinha então quatro anos.Mas me lembro muito bem o Hélio com uma teara de pano na cabeça, dançando e cantando num grande desfile, no meio da rua onde morávamos.Parecia carnaval.A multidão fazia o som com um pedaço de pau batendo sobre pandeiro, tamborim ou lata repetindo sempre o mesmo refrão: ¨...morreu o Hitler...pam...pam...pam, morreu o Hitler...pam...pam...pam...¨. Quando fazia o pam...pam...pam......,  O Hélio levantava  o tamburim ou lata, ou pandeiro,olhava pra mim lá debaixo e continuava só que gritando o refrão MORREU O HITLER...PAM...PAM...PAM...Sei da chamada de atenção do Presidente,mas nem quero pensar em como foi.
             Os primeiros contatos com a arte do circo me foram passados pelo Hélio.Primeiro porque o espaço era bem em frente ao sobrado e só precisava atravessar a rua, e, segundo, acho eu, ele tentava ser gentil com minha mãe...(se é uma coisa que terei de admirar e agradecer sempre, era  o carinho, educação e o respeito dos filhos do meu padrasto para com minha mãe).O primeiro espetáculo assistimos na arquibancada e adorei.Surgiu uma artista mirim com roupa colorida e brilhante fazendo manobras e piruetas sobre uma tabua de madeira que por sua vez estava sobre um rolo também de madeira.Ao chegar em casa quis imita-la e punha uma tabua sobre uma lata vazia de leite Ninho e tentava me equilibrar sobre a tabua . mas a lata amassava e eu caia.Quando o Hélio viu,me explicou da menina fazer aquilo desde muito cedo e eu teria de me exercitar muito e não valeria a pena.                   Como também não valia a pena ficar tão assustada com a morte do Sr. Filme.(Filme ,nome próprio mesmo).
                  Sr Filme era amigo do meu padrasto e hospede constante do  sobrado.A mesa do café ficava sempre posta a sua espera,pois  era o ultimo a se levantar.Parece mesmo é que ele gostava de tomar o seu café matinal sozinho, ou por outra, comigo.No momento em que mamãe servia o bule de café e leite, ele me chamava pra sentar ao seu lado e conversava como se eu fosse adulta.Não entendia sua fala mas gostava muito de ouvir o som da sua voz mansa e ondulada.Sempre trazia presentes tais como mobília de madeira para bonecas, bercinho de bebe, lápis coloridos,ferrinho de passar roupa,jogos de cubos então, era quase um por dia. Mais tarde vim a saber que ele era esotérico e tinha perdido uma filha da minha idade.Mas acho, que ninguém sabia era que ele tinha o dom da cura.Curou minha mãe em vias de ser hospitalizada apenas dizendo:¨Deus está dentro da senhora.Entre no seu quarto, cerre os olhos.¨O mesmo com  a coluna do meu padrasto.
                     Estava na sacada assistindo o ensaio das escolas  para os desfiles do dia 7 de setembro, quando Sr, Filme falou da porta entreaberta do seu quarto: ¨vá lá embaixo correndo, no escritório e chame seu padrasto¨Corri falei pra minha mãe que providenciou imediatamente a presença do meu padrasto.Nada adiantou.Ele morreu.
Não entendia o tanto de gente.Não entendia ele em movimento no café daquela mesma manhã e os seus últimos presentes: duas panelinhas  com tampa.A pouco ele me chamava e agora tão quieto deitado dentro do caixão dormindo no meio da sala.Ia toca-lo para que se levantasse, veio então o Hélio depressa, pegou na minha mão e disse:¨ ölhe como ele está dormindo.Sabe onde ele vai acordar?¨ Retornou comigo no inicio da escada que dava para o quintal e mandou que eu olhasse para o horizonte .¨Ta vendo lá em cima no céu?¨ É lá que ele vai acordar.¨
Houve certa preocupação por parte da mamãe, padrasto e Hélio com meu comportamento inexplicavel de só  querer ficar sentada atrás das portas durante o velório.A noite, a demora pra dormir levou o Hélio a tentar me distrair fazendo figuras com as mãos, imitando animais em movimento.Mandava eu olhar pra sombra na parede e aí surgiam cachorros, gatos e outros.Muito tempo mais tarde eu fazia a mesma coisa com meu filho quando pequeno.Ele repetiu o mesmo com meus netos em criança.  
Na manhã seguinte perguntaram como eu estava e disse:¨sonhei que o Hélio estava com o rosto todo riscado assim (mostrava no meu rosto linhas verticais e horizontais), e assim.De todos os riscos saia muito sangue¨.Então ele pegou papel e com lápis  riscou uma bola, 2 olhos e boca.Quadriculou a bola e perguntou: “assim?”Eu disse sim, só que de cada risco saia muito sangue.Foi uma espécie de premonição com anos e anos de antecedência, já que foi exatamente assim que o encontraram com sua esposa e dois filhos em um grave acidente de carro.Sómente no caso dele ficou cruzamentos de linhas infiltradas pelos vidros do carro.Toda a família fez a grande viagem juntos.
Que você Hélio e toda a sua família, onde quer que estejam tenham muita PAZ e a você em especial, meu grande e muito obrigada.

Quem sabe a gente não se encontra por aí,em uma outra Rua do Comércio qualquer, localizada, sabe Deus,em outra dimensão qualquer eficamos sabendo os motivos que os levaram a se unir e conviver com uma criança com idade de 3 a 4 anos por quase 5 anos? QUEM SABE?! PAZ PARA TODOS.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Delicia de Domingo. Chove.

Abro a janela e de imediato vem aquelas musiquinhas antigas na minha cabeça: “chove chuva, chove sem parar do Jorge Bem; a marchinha de carnaval: “Tomara que chova 3 dias sem parar, a minha grande magoa é que lá em casa não tem agua e eu preciso me lavar” ou Medo da chuva do Raul Seixas e ainda  o bolerão “Chuva de Prata que cai molhando o amor...”
 O som dos carros passando sobre poças de agua se intensifica e lembrança da infância vem à tona. Vejo-me toda molhada olhando pro alto com pingos e pingos contínuos caindo e eu, livre leve e solta dando grandes passadas, levantando bem os pés numa corrida lenta e gostosa dentro de poças de agua e às vezes lama. À medida que ia pulando, abria os braços, cantava numa alegria esfuziante. Ou seja, verdadeiro MICO infantil.
Nem mesmo a voz da minha mãe se fingindo de bravamandando tirar a roupa e lavá-la, diminuía o meu prazer. Sei que assim era porque após tirar a lama da roupa, lava-la e tomar banho, ela já tinha separado vestido limpo e na mesa da cozinha acabava de colocar travessa com bolinhos de chuva feitos na hora. Havia uma janela que dava pra ver a chuva descendo e lavando tudo. Parecia até que o mundo estava também tomando banho. O telhado das casas as arvores, tudo ficava com cores bem nítidas. E minha mãe e eu ali, fazendo parte de tal cenário, protegidas e saboreando bolinhos de chuva com chá de Cidreira. Adoro lembrar tudo isso.

Enfim, estou feliz porque é domingo e está chovendo.

sábado, 27 de dezembro de 2014

SERÁ?...SERÁ!


              SERÁ ?...SERÁ!.




Hoje se alguém pedisse para eu mesma  me definir,poderia dizer: “sou uma pessoa duvidosa  e cheia de superstições¨ .As vezes fico preocupada com a minha forte inclinação para acreditar em antigas  lendas, previsões do senso comum,historias da carochinha e tal.Quando surge fato meio surreal,casos do além ou absurdamente difícil de aceitar,recorro a pesquisa e constato a comprovação real, da inexistência para  determinada crendice.Aí então fico dividida entre o que ouvia na infância e na pesquisa de laboratório.Acabo sempre caindo no SERÁ?...SERÁ!...

      Me lembro de lá pelos meus 6 a 7 anos,estava sentada na cama junto a minha mãe, entrou um pássaro que rodou o ambiente e pousou bem em cima da cabeça da mamãe.Ela se assustou e disse:¨Ai meu Deus alguém da nossa família ta morrendo ou morreu ¨.Naquele tempo, as cartas ou telegramas vinham com uma tarja preta anunciando noticia de luto.Dai a 2 ou 3 dias o carteiro me entregou um telegrama com tal tarja negra que corri para entregar a mamãe.Ela desabou em lagrimas e concluiu:¨¨..vovó Brasilina morreu.Bem que o passarinho me avisou¨.Outros fatos com aves voando dentro de casa confirmou minha tese infantil de que pássaros voando dentro de casa, poderiam significar o seguinte: se SÓ voassem, noticias ruins ;se pousassem na cabeça de alguém , com certeza um familiar desse alguém estava morto.¨Quando vi o filme de terror do Alfred Hitchcook sobre os pássaros, ficou tudo confirmado .Eu sei...eu sei...tudo ficção.Porém ele fez o filme  baseado no livro de uma escritora inglesa que no meu entender,deve ter tido experiências infantis com pássaros, parecidas com as minhas.Acho que deve ser por ai o meu desencanto com EE.UU. cujo símbolo é uma AGUIA.

.A que ponto cheguei...mas vê se não é pra reforçar os meus SERÁS!?Outro dia cheguei em casa feliz e saltitante e me deparei com uma pomba branca, encolhida sobre uma mesa de canto, parecendo muito alquebrada.Levei grande susto e tentei retira-la para fora da janela, por onde deve ter entrado.Não consegui e pensei: ¨só falta ela pousar sobre a minha cabeça¨.Pedi ajuda imediata ao porteiro que a retirou e ela saiu voando tranquila.A aparência de alquebrada deve ter sido o resultado do cansaço das  tantas tentativas dela, para sair.A minha alegria e saltitância  inicial da entrada, sumiram.Embora interiormente estivesse torcendo para que isso tudo fosse uma bobagem, afinal pomba BRANCA simboliza PAZ, mas, antes da noite terminar recebi noticia da internação da  Nilda(amiga muito querida da adolescência),que me levou a sair correndo para o hospital.15 dias depois ela fez a grande viagem. Não quero registrar outros acontecimentos  dolorosos e tristes ligados a esses belos  animais, frágeis e de canto tão lindo como sua forma de expressão.

O engraçado é que gosto de ver e ouvir pássaros desde que eles não queiram muita intimidade, tipo entrar onde estou e ficar voando a minha volta.

Na semana passada, tive mil duvidas sobre um mistério surgido no piso do antigo quarto da minha mãe.Todo ele apareceu muito frio.Só o chão.Como se o ar condicionado estivesse ligado dia e noite.Somente esse cômodo apresentava esse problema.Como já tinha visto programas de TV e lido sobre total mudança para baixa temperatura , quando espíritos de mortos se manifestam, deduzi logo que o quarto estava repleto de seres do mundo dos mortos.A idéia foi se reforçando ao convidar vizinhas do mesmo andar,que concordavam logo, ao presenciar o fato.Algumas até comentavam...¨nossa! To toda arrepiada...¨, ...¨ olha meu braço,arrepiou...¨  ¨...Santo Deus minha nuca ta gelada...¨.Minha preocupação redobrou e tentei me acalmar pensando: “misericórdia! Todas, como eu, com mais de 70anos...,quem sabe não estamos é ficando CADUCAS...¨.E assim, comecei verdadeira pesquisa para achar uma razão e me livrar  de ser conhecida num futuro próximo  como A IDOSA DO QUARTO DOS ESPIRITOS.

Chamei um eletricista e olhamos fio por fio de eletricidade,ligações de TV,vídeo e computador.Não encontramos NADA.

Na semana seguinte,o problema do frio no piso continuava.Resolvi me comunicar com a vizinha do apartamento debaixo do meu.Expliquei o que estava acontecendo e se podia dar uma olhada no quarto dela, exatamente igual ..EXPLICADO.Seu filho estava de férias e instalou um possante ar condicionado encostado no teto com o ar direcionado para cima.Ou seja,irradiava no meu piso do quarto onde gelava o chão.Segundo o filho, fica ligado dia e noite.

E se não tivesse pesquisado?Haveria grande possibilidade de tal acontecimento virar uma crendice,nem que fosse temporário.

De qualquer forma vou seguindo com meus presságios, aparentemente sem fundamentos e reforçando os meus SERAS.


sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

A      A MALA


       Houve um tempo em minha vida, do cansaço físico  ser tão grande que comecei a delirar,  imaginando como deveria ser o descanso eterno.Teria de andar?Ou simplesmente  deslizaria  por entre as nuvens , numa espécie de levitação não precisando de mover nenhum movimento,nenhum músculo, nada e nada.Não entrava no meu delírio suicídio ou morrer.Apenas queria descansar, voar por ai, sem lenço e sem documento como dizia Caetano,sem filas de banco,sem preocupação com entes queridos doentes,futuro de filho,contas pra pagar,resolver pequenos problemas domésticos tipo onde achar pedreiro ou eletricista e por ai afora...Pra chegar a ter desejo tão forte de descanso,é necessário falar de como eram meus dias, ano após ano. Saia de casa as 7:20 da manhã.As 11 horas,caso não tivesse nada pra pagar, comprar alimentos,poderia substituir o sanduiche, da hora do almoço, por uma refeição rápida com minha mãe em casa.As 13 horas voltava para o trabalho e só as 6:00 da tarde sairia correndo para outro emprego e  dar aulas até 22:30.Finais de semana?Ou estava viajando a serviço pela zona rural ou preparando e cozinhando os alimentos para semanaseguinte.Férias? Eu as vendia por extrema necessidade.Foi logo que fiquei viúva.
              Foi aí ,que virei personagem.Lidava com público o tempo inteiro e não havia reclamações. Sempre alguém procurando  e solicitando minha presença.Que presença?A de uma jovem alegre,risonha,amável,extrovertida e brincalhona. No final do dia, ao chegar em casa,retirava  o papel do personagem e começava então a  sonhar ou delirar.
               Naquele tempo,não tinha ,como hoje armários embutidos.Havia um velho guarda-roupa e sobre ele uma grande mala.Todos os dias ,ao acordar me deparava com a velha mala em cima do guarda-roupa.Sempre fazia minhas orações solicitando a Deus que caso eu fizesse a grande viagem dormindo que ele tomasse as providencias para que eu não ficasse assustada.Que ele me encaminhasse ou mandasse alguém falando claramente o que estaria acontecendo e me protegesse.Me lembro que  eu ainda reforçava o pedido pra não surgirem códigos .Explicar bem claro.Fechava os olhos e só acordava com o despertador para as 5:30horas da manhã.Abria os olhos bem devagar pra ver se não via a mala, pois se tal ocorresse, era sinal de que eu tinha ido,ou estaria em outra dimensão.
Mas lá estava ela. Firme e sólida.E  eu sempre com  a mesma reclamação:” OH Deus! Outra vez? Por que? Ainda estou aqui e tenho outro dia inteiro pra enfrentar.”.
Meio decepcionada tomava banho me vestia e ao chegar na Delegacia comentava com meu colega JERRY. Ainda não foi dessa vez. A mala continua lá. Ele ria e no meu aniversário me deu esse poema.


quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

HIDROGISNATICA

                 HIDROGINASTICA
        Hidroginastica agora é a palavra dominante do momento na minha vida. A urgencia  ficou definida, após conversa séria com o cardiologista.O único exercício possível já que não posso nadar(Pode entrar agua nos olhos com glaucoma), nem tão pouco fazer caminhada ou pilates devido a artrose e artrite nos joelhos.Então, daqui pra frente, tudo vai ser diferente, tendo essa nova atividade, como sempre prioridade. Duas vezes por semana estarei  presente me exercitando.
     No 1ºdia dos exercícios fiquei bem derrubada e muita vontade de chorar.O local é muito bonito, a piscina coberta, agua quente para morna, enfim, especifico para idosos...Juro que não esperava ver pessoas chegando em cadeiras de roda,portadoras de Parkson ou acompanhadas de curadores..Aí caiu a ficha mesmo.É como se nos todos ali, estivéssemos num grande barco indo não sei pra onde...,não que me imaginasse especial e portanto não poderia estar rodeada de tanto sofrimento .Mas ouvindo o som de peles enrugadas e flácidas se movimentando na agua como se estivessem boiando,me chocou muito..Me senti mais flácida,frágil e desencantada como nunca pensei me sentir.Não.Eu nunca fora especial e o que é pior,não conseguira ainda, alcançar um patamar mais elevado a nível espiritual. Se tivesse alcançado,com certeza não teria percebido tanto a aparência externa.A minha criança interna sumiu e no seu lugar ficou uma velha alquebrada, triste  e horrível.
        No 2ºdia, já percebi um grande pôster tomando toda a altura da parede,postando, a nível publicitário, um casal de idosos sorridentes e os olhos azuis do homem pareciam me fixar sorrindo.Então. toda vez que se materializava um quadro muito triste, eu olhava depressa para o poster homem de olhar sorridente da parede.
            Nos dias seguintes, já conseguia conversar e interagir com meus novos companheiros de caminhada aquática.
            Fazendo uma análise rápida vi a diferença de uma hidro em clube, onde nada é coberto, muito sol, agua fria, idosos misturados com mais jovens,tudo colorido e a hidro agora, direcionada exclusivamente para idosos com problemas de saúde.

E seja tudo pelo Amor de Deus.
Adicionar legenda

sábado, 28 de junho de 2014

COMPETIR OU NÃO COMPETIR


                       

                 Acredito que desde minha infância carrego a culpa de tudo e de todos sobre mim.Me lembro de que nos primeiros anos escolares,quando a professora questionava algo para a turma responder, mesmo sabendo, me encolhia aguardando  a primazia  de alguém para dar a resposta.Caso isso não ocorresse,me manifestava e em seguida vinha o sentimento de que estava tirando o lugar de alguém.Roubando algo de algum colega.Durante minha caminhada até agora descobri não suportar qualquer tipo de competição.É um terror,não?NUM MUNDO ONDE IMPERA A COMPETIÇÃO,me sinto um alienígena.Graças a Deus, as amigas que caminham comigo pela vida, devem ter algum problema  a nível inconsciente, pois apresentam 50% do mesmo sentimento de culpa.Tenho amigas formadoras de família,inteligentes,casaram por grande amor ao marido e quando tal companheiro entra na idade do lobo, ou seja, tenta viver o amor que pra ele acabou, com outra mulher,tais amigas, perdem a tesão,perdem o amor.Não sentem o MENOR INTERESSE por aquela situação.As pessoas sem tal problema interior aconselham: “vá a luta! Faça alguma coisa,Tenta reconquistar seu marido.Se vc lutar é claro a sua saída como vencedora”.Não adianta.Ela faz o funeral do seu casamento,entrega tudo numa bandeja e ainda agradece a Deus, pois com certeza ela é a culpada.As vezes se questiona horrorizada a procura do seu grande e imenso amor sentido pelo parceiro e constata sua indiferença.Por vezes até um certo alivio de ter recebido castigo merecido   por algo feito, que nem mesmo ela saberia.

                Podemos até achar muito comodismo, meio sacal e entediante, porém se enganam quem achar que tais mulheres são submissas,acomodadas.É que a partir do momento que os seus interesses(viu como são egoístas?)mudam de foco, elas se debruçam naquilo que realmente as interessará.Geralmente se recusam a serem prostitutas legalizadas.Ou seja,viver as custas do marido,arrumar um amante(por desaforo)e apelar pra plásticas, consumismos fúteis e caros se aproveitando da situação emocional e culposa do marido.

             Não me sinto muito bem tendo tal visão e também me questiono sobre minha idade.Será que estou ficando velha mesmo?Será a idade um fator predominante para acentuar essa falta de competição?Ou será essa a desculpa pela minha indiferença com tudo que não me desperta o interesse?Ou ainda, seria o medo de competir e perder?Quem sabe!?...Paz para todos.