Em Qualquer Cidade de Minas Gerais

Em Qualquer Cidade de Minas Gerais

Sempre tive vontade de registrar o meu dia a dia.Na adolescência, babava de inveja , ao ver colegas que tinham um diário.Ali escreviam seus sonhos, as mágoas , o 1º beijo e tal...Tínhamos uma situação financeira e econômica muito instável e não havia a menor possibilidade de comprar um caderno bem bonito, especial e escrito na capa MEU DIARIO. E assim , a adolescência acabou, veio a vida adulta , a super adulta e enfim cheguei na 3ª idade sem nunca ter realizado esse sonho idiota para alguns , terapia para outros e para muitos como eu ,que ainda tenham a insistência e a teimosia em alimentar a criança existente em nós . Então veio a idéia de criar um blog em que pudesse registrar o cotidiano de uma senhora idosa , sem culpas ou medo do ridículo .Hoje é bem melhor porque a gente escreve para o vento, pra gente mesmo.Totalmente irresponsável e sem compromisso de agradar ou não.Simplesmente pelo prazer de falar do seu dia a dia vivido em qualquer cidade de Minas Gerais ou qualquer espaço físico vivenciado por mim.

sábado, 31 de dezembro de 2011

Então...é Natal

Nem acredito que já passou o Natal.Meu Natal foi inesperado, pois passei com meu filho,Isabel, a irmã da Isabel com o marido Vitor e mais 3 cachorros.Assei um Chester, fiz um rocambole de atum e uma farofa maravilhosa de miudos .Como sobremesa uma torta deliciosa de nozes feita pela minha irmã de coração , a Miriam do Rui.Fizemos uma oração antes da ceia e uma energia linda nos inundou de alegria por estarmos juntos. Porém, antes disso, quase internei de tanta preocupação com minha nora Isabel recém operada de um tumor benigno no ouvido.Operação feita no dia 16 de dezembro que durou 8 horas na sala de cirurgia, aqui em Valadares. De repente, meu sempre silencioso espaço fisico se encheu de vozes,risos,movimentos e até a dança do¨ NOSSA, assim vc me mata...¨.Tudo correu muito bem devido a ajuda dos visitantes.Sabe aqueles hóspedes que a gente torce pra voltar?Assim são os parentes da minha nora.Quase não deixavam eu fazer nada (recém operada também de um agulhamento pós operatorio de glaucoma) Bem...com tal quadro de filhos em casa em pleno Natal, envolve compras, menu, presentes e tal, a preocupação se todos estavam bem acomodados se duplicavam.Ri muito, me diverti com a situação e pensei de ser esse Natal, o melhor que tive desde a ida do meu marido para a grande viagem.E olha que la vão 35 anos desde a grande viagem. Viagem também que ocupou meu cérebro foi a do meu filho DIRIGINDO de BH para Valadares.Estradas dificeis e de muito movimento nesta época.Mas chegou bem e contando vantagens. Vantagens estava eu contando para uma amiga pelo celular, do sucesso do meu Natal, quando o fone fixo toca e vejo meu filho emudecer.Minha nora se achega a ele e desligo meu fone com o coração nas mãos de ansiedade.E vem a noticia de um vizinho dele.Seu apartamento tinha sido assaltado.No prédio onde ele mora em BH,quase todos estavam viajando.NUM relampago passou na minha cabeça ele dirigindo de volta com tal gama de emoções .E assim ele se foi com minha nora pra BH.No fritar dos ovos, fizeram uma limpeza no apartamento dele em BH..Uma TV42, um computador, um leptop,2 camaras digitais,camara de filmar,DVD, jóias,cofre com dinheiro e por ai vai.Graças a Deus que eles estavam aqui.Como ficaram?No inicio,chocados,em seguida já planejavam mil coisas.Meu filho gozador ja começou a fazer piadas e assim chegaram em BH.Muita paz pra todos.

domingo, 11 de dezembro de 2011

CERTA MANHÃ NUM CONSULTÓRIO MÉDICO



CERTA MANHÃ NUM CONSULTORIO MÉDICO


Esperava o momento de ser atendida num consultório médico, quando sentou-se ao meu lado,um ser feminino de cor preta, com um lindo sorriso me dando bom-dia.Respondi igualmente e me surprendi com sua desenvoltura.Sua aparência era mais ou menos de uma mendinga em ascensão do sair da daquela condição, indicada por suas vestes tão gastas e descombinadas. Começamos a conversar e descobri sermos da mesma idade, 71 anos.Daí ,começamos a expor nossos problemas pessoais.Ela com 3 filhos e sua luta para lidar com a perda do 4ºfilho assassinado há 6 meses.Expos sua luta para voltar de Nova York juntando todos os trocados com a venda de salgados para pagar a volta para Valadares.Ela vendia coxinhas, empadas, esfihas e pasteis.Sabe aonde? Nas esquinas da quinta Avenida e outros lugares que a gente ouve falar tanto.Dona Nilda, é o seu nome,está aposentada como cozinheira de um grande motel de luxo e famoso aqui em Valadares.Tem casa própria construída com o dinheiro de uma filha residente em Roma e do filho nos Estados Unidos.Perguntei se conhecia Roma e ela prontamente respondeu: ¨estive lá 4 vezes pra ver minha filha e dois netos¨.Ai foi enumerando os países que conhecera.Eu ia ficando cada vez mais encantada.Se casara 3 vezes e ainda tinha esperança de que aparecesse um senhor para ela namorar e terminar os seus dias.Pensei comigo...”meu Deus mas que mulher porreta!!!”Quando expunha esse seu desejo, seus olhos brilhavam e seu sorriso mais se alargava.Curiosa perguntei:¨ dona Nilda a senhora faz reposição hormonal?¨(sempre faço tal pergunta para semelhantes da mesma idade que eu, pq não posso fazer tal reposição devido a displasia. Sendo assim minha libido está zerada).Ela disse não.Pensei Ca com meus botões: “Como não?Somos da mesma etnia afro, temos a mesma idade...,...!”Ora, ora, e ora.Olha só o brilho que ela expande,olha só os planos que ainda tem em mente,olha só a conformidade com a perca do seu 4º filho,olha só o seu astral,olha só a pouca importância que dá para as aparências,olha só a simplicidade da narração das suas viagens pela Europa.Fui interrompida nessas minhas reflexões, ao ouvir o meu nome para ser atendida pelo médico.
Comentei com o médico:” a próxima cliente ,depois de mim, o senhor a conhece ? Ela é sua cliente ou é a 1ª vez que faz consulta?”.Ele respondeu que era sua cliente há muitos anos.Então continuei: o senhor sabia ser ela aposentada como cozinheira, faz salgados pra vender e apresenta um brilho especial com seu alto astral?Sabia da alegria dela em viver a vida?O médico disse SIM e acrescentou: ela tem 2 transplantes que deram certo,um olho e um rim.Tem 1 ponte de safena e ainda carrega um aparelho para controle cardíaco...INACREDITAVEL!!!Como era possível?!...Comecei a deixar minha fantasia correr indagando pra mim mesma:Será que é humana mesmo?Ou é um ET disfarçado ou tem grande proteção de Anjos e Mestres Poderosos.
Comecei a ficar desconfiada de que o surgimento de tais seres especiais, logo assim de manhã no meu caminho, são enviados pra eu tomar vergonha na cara e ter outra visão dos meus problemas atuais.De qualquer modo,fiquei lindamente alegre em conhecer Dona Nilda.Paz para todos.


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

ACEITE MEU AMOR(Autora:Julia)


Amiga do meu coração,me atrevi mesmo sem o seu consentimento,em postar esse texto que parece tanto com o tanto de amor em vc pra doar.Muita Paz.

Aceite meu amor

Como tudo que é vivo Daqui ou ali
Nesse momento, hoje ou amanhã.
Enquanto é tempo
Antes que a vida acabe
Nunca é tarde
Me aceite assim como eu sou
Sou mais do que tenho
Abrace-me, que te darei minha energia.
Seremos dois em um
Me dê sua mão, nossos chacras se unirão.
Sentirás meu coração
A pulsar hoje e sempre
Até onde vai dar o firmamento
Inclusive em pensamento
Seremos um do outro o suporte
Até a nossa morte
Me aceite, me abrace...
Deixe-me aquecer-te
Temos um longo caminho a percorrer
Tudo devagarinho, conquistando dia a dia.
Isso não é Paixão, que é intensa, mas em pouco tempo explode, acabando com tudo. E nos deixa sem chão com muita tristeza no coração.
O que eu estou te propondo é AMOR!
Amor, calmo, sereno e paciente.
Nunca esquecendo de ser também caliente.
Mas com um companheirismo permanente.
Talvez seja tão simples, tolo e natural que você nunca tenha parado para pensar.
Como é fácil me AMAR...

Julia...01/06/2011

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

SERÁ QUE VALE A TENTATIVA?



SERÁ QUE VALE MESMO TENTAR?

Minha rotina matinal estava maravilhosa.Sem obrigações de obedecer horários, cada manhã , passou a ser prenúncio de delicias.Fazia minhas orações, café super gostoso pra mim e fatia de queijo frescal pra Dolly. Ligava a TV pra esperar a Ana Maria Braga com suas novidades culinárias. Em seguida tomava um delicioso banho.Daí,descia com a Dolly e dava 2 voltas ao redor do prédio onde moro.Voltava e arrumava casa, lavava alguma peça de roupa e me encantava com meus crochês e tricôs.VIDA DE SONHO...
Como disse acima, ESTAVA.O médico me fez prometer de sair de qualquer forma, e andar 40 minutos.Tentei me informar com ele mesmo se o tanto de exercício praticado, natação e tal,na minha juventude, se não poderiam ser cumulativos, isto é, se praticou muito esporte enquanto jovem, estaria livre na velhice.Ele disse não após me mostrar onde estava meu colesterol, pressão alta e outros.Segundo ele,era necessário evitar medicação química se houvesse como reverter o quadro só com alimentação adequada e exercícios fisicos.Daí, já vou dormir preocupada de que tenho de descer ficar rodando o prédio durante todo esse tempo com a Dolly, pois segundo a veterinária, a Dolly também está obesa.Olha só que tormento.Isto é que chamo de mudanças de hábitos.
Mudanças de hábitos pra quem acaba de sair de uma crise de síndrome do pânico..., tem verdadeiro horror de andar... e o único esporte praticado desde a adolescência foi a natação.Até pouco tempo praticava todas as modalidades de natação e fui proibida devido a manchas senis(mancha de velhice) em todo o rosto e por mais que ponha cremes e filtro solar bem forte, as manchas se destacam (mesmo sem sol.Apenas com a luminosidade da piscina), dando a aparência de um palhaço, isto é, manchas pretas ao redor dos olhos e testa.Enfim, tive de parar de nadar.
Parar de nadar foi terrível, pois aumentei de peso,comecei a evitar de sair e a partir daí, tudo veio abaixo.Se não fosse a ajuda dos amigos, não sei como teria superado esse período.
De uma coisa estou tendo mais certeza,é a de nos preparamos, nos cuidarmos, fazermos todo o possivel para ficar muito bem na 3ºª idade.Mudamos até de hábitos para que assim seja.Para que? Para morrermos saudáveis?!...Já sei, já sei...tudo para entrar na tal de qualidade de vida.Envelhece, morre,mas com saúde.Isto inclui muitos exercícios tipo andar,andar e andar.Alimentação? Tudo que for contra aquilo que foi criada.De preferência,pão DIET, arroz integral (aquele que não tem gosto de nada), carnes de frango ou peixe.Vermelhas? Nem pensar.(sou apaixonada por churrasco).Justamente por ter sido criada comendo peixe diariamente, (naquela época, era o mais barato), desenvolvi um sabor acentuado por carne vermelha.Salada? Era a entrada.O tipo de pensamento era: “1º o ruim pra agradar a mamâe , e depois o bom.”
Exercício? Só mesmo natação.Afinal nasci no litoral.Quando perdi 3 amigas ANDANDO, seguindo a risca os mandatos médicos,fiquei muito confusa.
Tudo bem, tudo bem...é fato comprovado que a tal mudança de hábitos alimentares , exercícios corporais alongaram bem a vida dos brasileiros.A espectativa de vida aqui, era de aproximadamente 60 anos.Atualmente chega quase a 80 anos.Porém, entra ai uma série de fatores como etnia,clima,etc.É uma conclusão um pouco primária,mas meus ancestrais maternos morreram com mais de 80 anos e com alimentação feita na base da gordura e carne de porco, muita farinha de trigo, mandioca e de milho e claro, muita verdura da horta obrigatória no quintal.
Enfim , vou tentar substituir os momentos prazerosos matinais, por ANDAR , ANDAR E ANDAR por 40 minutos initerruptos e diários.Banir tudo aquilo que proporciona prazer gustativo, ou seja,casadinhos,sequilhos de coco, bicoitinhos de povilho, tortas de chocolate, lasanhas, pizzas ,costelinhas de porco, rabada com batatas e retirar da minha agenda nos finais de semana, almoços em churrascarias.É uma vida com alto teor de VEGETATIVA.Será que vale a pena aos 71 anos?
PAZ PRA TODOS.



sábado, 25 de junho de 2011

O BEM QUE FAZ IMAGENS BONITAS!



Quer aliviar as tensões? Olhe algo criativo como pinturas, por exemplo.Dê um pulo aquiKICLE AQUI e verá ruas misteriosas e românticas pintadas pelo Peter Motz e outros no blog da Miuíka.O que estou postando é do blog dela.É do Gabriel Caleffi.QUER IR LÁ?http://miuikablogspotcom.blogspot.com/search/label/Pinturas

quinta-feira, 23 de junho de 2011

SAUDOSO CINEMA POLITEAMA


CINEMA POLITEAMA.

Atualmente o antigo Politeama se transformou no cinema santa Cecilia e hoje pertence a uma igreja evangelica, conforme foto.



Lá pelos idos de 1945, O cinema Politeama ficava localizado no centro de Vitória ES,numa esquina em que um lado dava pra Av. da Republica e o outro lado para o Parque Moscoso.Parecia mais um grande barracão de tábuas, instalado em toda a esquina, dando a entender que logo entraria em obras de construção.Coisa que nunca aconteceu, ou por outra,as tábuas não foram retiradas e, em seu lugar surgira outro Politeama.Pouco antes de sair de Vitória para sempre,o cinema tinha sido derrubado e em seu lugar surgiu um edifício de tantos andares e no térreo, o novo cinema Santa Cecília.Atualmente, funciona uma igreja protestante.
Mas naquele tempo, era um local freqüentado por todas as camadas sociais.Aos domingos, as matines ficavam lotadas de crianças e adolescentes.Seu interior possuía filas de cadeiras de madeiras sobre um piso de terra(se não me falha a memória), e uma imensa tela sobre um palco, coberto por uma cortina vermelha.Atrás do palco com a cortina, ficavam os bastidores do cinema.Mesas muito compridas com material de marcineiro e latas de tintas.Ali eram pintados os imensos quadros com as chamadas de publicidade para os filmes a serem apresentados.Hoje fico imaginando do homem responsável por tal trabalho ser um artista,pois transformava os pequenos retratos recebidos em forma de folhetos, em grandes painéis publicitários.Esse imenso espaço atrás do cinema, era limitado por uma porta, que dava continuidade para uma casa residencial.
Nessa casa, morava uma amiga da minha mãe de nome Ocarlina,casada com Sr.Pedro e mãe do Delmar e Dalton.Suas irmãs,Ninita pouco mais velha que eu, Dorotéia e Dionei, ambas já moças, também moravam na casa.A função das irmãs era limpar o cinema após os filmes exibidos à noite ou nos matinés ao domingo.Dona Ocarlina, na minha visão atual, uma grande guerreira, pois seu marido com doenças mentais,talvez não pudesse ajudar em nada na manutenção da família e ela trocava o aluguel da casa onde morava, pela manutenção da limpeza do espaço de filmagens.Costurava pra fora e tentava educar seus filhos de forma digna e saudável além de cuidar permanentemente do marido doente.
Assim, éramos 4 crianças brincando no naquele espaço, enquanto as irmãs faziam a limpeza.Procurávámos os papéis de bom-bons brilhantes no lixo retirado e depois brincávamos de joalheria após ter confeccionado muitos anéis e pulseiras com o material flexível de alumínio dos papéis que envolviam os bom-bons.Tínhamos anéis de ouro, brilhantes, prata e tal.Como a porta de entrada da casa era justamente ao lado da bilheteria do cinema, a gente expunha nosso tesouro, e entrava em euforia quando alguém parava pra ver nossas exposições.Como a Ninita pertencia á família de espanhóis, a organização era levada a sério.Me lembro que os lençóis da cama das nossas bonecas eram de lenços lavados e passados a ferro.Era uma delicia o nosso mundo do “faz de conta”.
De repente, dona Ocarlina expandiu seus ganhos financeiros ao montar uma pensão na mesma Av.Republica e então, ela ficava dividida entre as responsabilidades da sala de filmagens e sua pensão repleta de hóspedes.
Não sei como não virei artista de circo ou parque de diversões, por influência dos artistas que se hospedavam na pensão da Dona Ocarlina.Nesse momento de transição me vi em situação que se tornaria um verdadeiro trauma futuro.O sobrinho da dona Ocarlina, muito brincalhão,resolveu colocar uma horrenda mascara de palhaço e sair atrás de mim.Corri desesperada da pensão até o Politeama e ele atrás de mim.Lá, com mil labirintos que eu já conhecia, corri para as irmãs que faziam a limpeza e quase desmaiando me abracei à elas.Embora entre muitas gargalhadas,ele levou muitas cabadas de vassouras.Eu? Nunca mais pude me livrar de um intenso arrepio quando vejo um palhaço de teatro ou circo.
Mas o que me surpreende, é como vivenciei tantos conhecimentos, bem básicos é verdade, sobre o universo das artes, tais como a música, o teatro, o cinema e também literatura. VÁRIOS FILMES DE SUCESSO, SERIADOS, COMÉDIAS, SEMPRE VIA EM 1ª MÃO.COMO?
No palco da tela, havia 3 camadas ou vãos seguindo a altura do palco, bem altas e verticais.No primeiro vão,era bem próximo ao auditório, o 2º vão era mais atrás e era ai que a dona Ocarlina punha bancos,panos no chão e em total silencio, pra que ninguém soubesse, assistíamos os filmes meio de lado, mas com total visãO e sem pagar nada.Mamãe trazia amendoim torrado e pipocas feitas em casa e assim, de um lado, ficava o homem artista que tinha feito as propagandas, seus amigos, e do outro lado, o lado direito do palco, as crianças e mulheres.To me lembrando agora, do filme que mais influenciou minha mãe.Foi “ A GRANDE VALSA”, DO STRAUS.No outro dia, após ter assistido o filme, minha mãe arrumava a casa imitando a voz cantante da personagem.Pra nós, minha mãe e eu, era como se estívessemos num outro planeta.Foram descobertas mil, que recebemos através da dona Ocarlina.
Como sua pensão hospedava todos os artistas de circo ou de parques,ganhava bilhetes para assistir os espetáculos.Me lembro que já estava na escola e levava as colegas comigo, graças a Dona Ocarlina. Eu era olhada com admiração por estar tão chegada aos astros dos espetáculos e ter bilhetes gratuitos.Ela e minha mãe foram amigas durante muitos e muitos anos.Ela se desligou do cinema Politeama e ficou só com a pensão.Nós fomos nos distanciando devido as nossas moradas cada vez mais distante.A ultima noticia foi quando vi minha mãe chorando porque viram Dona Ocarlina , na rua, com vestido com a metade da bainha desmanchada e toda suja. Era difícil imagina-la assim, já que era extremamente vaidosa e muito elegante. Ela teve a mesma doença do seu marido. Logo depois vi novamente minha mãe em prantos devido a sua morte.
Nunca mais ouvi falar dos filhos ou das irmãs da Dona Ocarlina.
Mas aprendi muito com a Ninita, que hoje deve ter uns 2 ou 3 anos mais velha que eu, se é que ainda existe.Com ela freqüentava os seriados e filmes do FU-MAN-CHU no cinema Politeama.Era igual as novelas de hoje.Só que demorava uma semana pra gente seguir o próximo capitulo.Até o episódio seguinte, imaginávamos mil coisas.Era uma delicia.Muitas saudades do período do cinema Politeama.

LEMBRANÇA INFANTIL



Houve uma época, lá pelos meus 9 ou 10 anos, que minha mãe achava que eu deveria trabalhar fora.Como ela fora assim educada,trabalhando desde menina,ela então cismou me ver em atividades fora de casa.Na sua simplicidade, eu deveria arrumar um modo de trabalhar como ajudante de balconista, de costureira ou qualquer modo,pra ela leve,que me levasse a seguir uma disciplina e responsabilidade.O serviço doméstico, pra ela, não era trabalho. Nesse tempo, ela fazia ponto paris em todo o enxoval da minha professora de bordado.Em troca, a minha professora noiva me dava aulas de ponto atrás, corrente, matiz, crivo e tal.Então, chegava da escola, almoçava, arrumava a cozinha, ia pra aula de bordado ( 3 vezes por semana) e em seguida saia para procurar emprego.
Emprego, nunca procurei.Então ia para as bibliotecas.Uma estadual e a outra municipal.Eu alternava.Entrava á tarde e só saia quando a biblioteca fechava.Chegava em casa e mentia descaradamente dizendo: ¨mãe, andei, andei e não consegui arrumar nada.Meus pés estão até doendo de tanto andar e procurar¨...então, foi assim que lia todos os gibis(não sei que nome se dá hoje.São revistas em quadrinhos que não podia comprar.)Tico-tico,Mandrake, Brucutu,Historias de faroeste e tal.Depois, comecei a ler livros especiais para juventude sugeridos pela responsável da biblioteca.De formas que aos 9 ou 10 anos já tinha lido quase toda a obra do Monteiro Lobato, Julio Verne, José de Alencar,Irmãos Griman, e milhões de contos de fada, Alice no País da Maravilhas e por ai vai...virou um vicio.Toda vez que estava com algum problema de família ou pessoal, me enfiava na leitura.Esquecia tudo.Me sentia dentro da leitura,vivenciando as aventuras e emoções dos personagens.Hoje, sou considerada pelos amigos como uma leitora compulsiva.Não sei dormir sem ler algo.Se não tiver nada, leio os Anúncios Populares ( vende-se, aluga-se ...)do jornal.
Quando me lembro de tudo isso, aos quase 71 anos,vejo e sinto como fui abençoada num contexto tão difícil.
Me senti muito protegida quando nos dois vestibulares que prestei,os textos para interpretação eram de autores que tinha lido aos 9 ou 10 anos de idade.É ou não é muita proteção?

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Noticias Inadequadas


Noticias Inadequadas

Não sei o que acontece com o pessoal da portaria do prédio onde moro.Qualquer novidade eles, não sei pq razão,ligam o interfone e dão a noticia.Começa assim: “ você conhece o fulano?” Eu respondo: “não.”Eles continuam: “ele ou ela é filha da beltrana casada com fulano. Continuo negando.(são 13 andares com seis apartamentos por andar).Insistem:¨ aquela pessoa, que tem o cabelo X, é muito boa pessoa e tem filhos assim e tal...¨ Começo a ficar aflita, pois só agora, depois de aposentada nos dois cargos, consigo saber das pessoas que moram aqui, já que sempre sai as 8 horas da manhã e só retornava as 23 horas.Continuo negando.O porteiro ou porteira começa a se impacientar e afirma: ¨é claro que conhece, não está é lembrando...¨, respondo pra ficar livre: Ah! Agora to lembrando( mentira, não tenho a menor noção de quem seja). O ou A porteiro arremata fulminante: ¨ele ou ela morreu.O corpo será velado em tal local e as tantas horas será enterrado, você vai?¨ Estupidamente e em choque pergunto: ¨Aonde?¨ Há!.. Geralmente as noticias de tal porte são dadas quando estou ensaboada tomando banho.Então, molhada e embrulhada na toalha, pingando a casa toda,dou as respostas possíveis.A seguir, enxugo a casa toda, e aviso a todos os seres invisíveis, se é que estão por aqui, a minha decisão de me recusar a voltar a esse planeta(caso exista mesmo reencarnação) sem um mordomo ou governanta e tal pra resolver esses pequenos problemas domésticos.To rindo...
Se alguém foi hospitalizada é a mesma novela.Ou então, alguém te telefona e já sabe onde mora, o nº do seu apartamento e o andar, evidenciando que os dados são da lista telefônica.Aí, você ta lavando a cozinha, ou, tomando banho, ou saindo depressa pra rua, ou, pintando o cabelo que não pode ficar além de tantos minutos com a química nos cabelos, ou, qualquer atividade que não possa parar.Então, você atende e o desenrolar é mais ou menos assim: ¨a senhora mora no aptº tal no andar tal do prédio X? Sim.Respondo.A senhora poderia me chamar o apº tal pq o fone dela não atende e ela mora no mesmo andar que a senhora?Preocupada de ser algo urgente, idiotamente você diz, SIM.¨Agora, se a pessoa está ou não, e vc recorre a portaria , e o tempo ta correndo, procura saber dos vizinhos onde está a pessoa, é outra novela se a pessoa que está aguardando a resposta não aceita nada contra ao que ela espera.Já quase fiquei careca com tintura além do possível nos cabelos, enrolada com tal tipo de telefonema.Será que isto só acontece em cidades pequenas?

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Oração Celta


POEMA TRADICIONAL A BRIGIT

Tógfaidh mé mo thinne inniu
i láthair na nDéithe naofa neimhe,
i láthair Bríd is áille cruth,
i láthair Lugh na n-uile scéimh,
gan fuath, gan tnúth gan formad,
gan eagla gan uamhan neach faoin ngréin,
agus NaohmMháthair dom thearmann.
A Dhéithe, adaígí féin i mo chroí istigh aibhleog an
ghrá
Dom namhaid, do mo ghaol, dom chairde,
don saoi, don daoi, don tráill,
ón ní ísle crannchuire
go dtí an t-ainm is airde.

Tradução:

Eu construo meu fogo hoje
na presença dos Deuses Sagrados do Céu.
na presença de Brigid da forma bonita
na presença de Lugh de todas as belezas
sem ódio, sem inveja, sem ciúmes,
sem medo ou horror de ninguém sob o sol
porque meu refugio é a Mãe Sagrada.
Ó Deuses, acendam o fogo de amor dentro do meu coração,
por meus inimigos, por meus parentes, por meus amigos
pelo sábio, o ignorante, e o escravo
da coisa mais humilde
até o nome mais alto.
Faça uma visita lá e ficará encantado.
clique aqui

http://acasadafada-jacque.blogspot.com/

terça-feira, 14 de junho de 2011

PRECE CELTA






Uma Prece ao Melhor de Teu Ser

Que esses escritos levem amor ao teu coração.
Que tudo que é trevoso se afaste de ti.
Que tu te encantes com o presente da vida.
Que tua alma seja curada na luz.
Que teus pensamentos sejam justos.
Que tuas mãos sejam curadoras.
Que teu trabalho te dignifique.
Que tu sejas querido na prece dos outros.
Que teu olhar revele o brilho do Eterno.
Que tu tenhas consciência da Sagrada Presença.
Que tu vejas algo lindo, mesmo num dia cinzento.
Que tu não deixes passar um grande amor...
Que teu coração seja generoso, como o sol.
Que teus passos sejam honrados.
Que a perda de alguém querido não te seja um fardo.
Que os reveses de tua vida sejam lições de sabedoria.
Que tu aprecies muitas canções, e se encante com elas.
Que tu não tenhas medo de amar.
Que tuas emoções não te sejam um peso.
Que tu honres aos teus pais e teus ancestrais.
Que tu sejas um bom exemplo de vida para teus filhos.
Que tu atravesses a vida com assombro e admiração.
Que a chuva lave tuas mágoas e te renove o viver.
Que tu saibas se abrir, para a vida te dizer algo justo.
Que teus lábios estejam sempre fechados para queixumes.
Que, por mais que te atentem, não traias teu coração.
Que tu saibas perdoar, aos outros e a ti mesmo.
Que tu tenhas sabedoria para corrigir teus erros.
Que tu não vejas a cor da pele dos homens, mas a luz neles.
Que o mal não faça morada em teu coração.
Que tu não valorizes aquilo que rebaixa o teu espírito.
Que nada te afastes da luz e do amor verdadeiros.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

E aí?




Durante nossa juventude, imaginamos a velhice ou caminho para o gran final, como algo lendário.Irá ocorrer, todos dizem, porém no nosso cérebro de adolescente, não refletimos muito a respeito.Quando atingimos os 65, parece que cai a ficha .Inicia com a Observação das crianças dos amigos se formando, casando e formando famílias.Como?Vimos nascer, eram bêbês e agora são homens e mulheres.Os amigos queridos da quase mesma idade que a gente , se vão.Ficamos estarrecidos com a certeza de nunca, mas nunca mais vê-los.Mas como? Ríamos muito juntos,passamos muitos e muitos momentos de tristeza e alegrias juntos.E..., de repente desaparecem da nossa vida como nuvens que se vão passando e não retornam jamais com o mesmo formato.E A velha música Luzes da Ribalda se concretiza. “...e o que se foi jamais não voltará jamais...para que chorar o que passou..., lamentar perdidas ilusões..., se o ideal que sempre nos acalentou..., renascerá em outros corações...”Então vemos a repetição dos mesmos conflitos , emoções, medos,desejos...,E o que é isto? Uma roda universal girando com os mesmos ideais e objetivos só mudando os personagens? É que constato pessoalmente..., mesmos anseios..., mesmas expectativas com finais frustantes...,retorno desesperado ao ponto de partida com o fim de diminuir as conclusões de frustação...,acontece com todos os seres em desenvolvimento.Tudo igual ao que vivenciamos...,só mudam os nomes, locais e temas.É a mesma sensação de sermos, todos, peças de um imenso tabuleiro de xadrez.Somos peças de um jogo.AÍ, surgem um tanto de teorias sobre o final de tudo isto.Alguns afirmam que estamos pagando dívidas com alguma vivencia anterior das quais não recordamos..., outras alegam que não é nada disso, é sim as leis naturais de um tipo de existência incompreensível para o nosso estagio no planeta. Outros ainda, continuam estudando,a possibilidade de sermos apenas produto de junções atômicas.., e por ai vai...;mas a verdade é que não temos nenhuma certeza do que acontece quando morremos.
O que acontece? Será que poderia ser igual quando dormimos?Então me lembro de estudos pessoais,sobre os sonhos, entre os seres primitivos.Iam dormir e sonhavam com seus semelhantes indo e voltando da caça,ou outra atividade daquela época. E, quando acordavam não entendiam bem como eles tinham ido tão longe e de manhã estavam todos presentes...,Assim, quando alguém morria, logo concluíam que o morto tinha ido pra não sei onde, pescar ou caçar e nunca mais voltava.Seria assim?Me lembro dos meus 11 ou 12 anos,ao tomar conhecimento dessas possibilidades,toda vez que ia a um velório, imaginava exatamente isso.Isto se fixou durante o meu existir e hoje imagino que há, a probalidade de assim ser.É como se vc fosse dormir.Quanto ao acordar como e aonde,tenho mil dúvidas.
Ao acordar, estaríamos mesmo numa outra realidade?Seria mesmo apenas uma mudança do estado de consciência?Não sei.Gente, isto são apenas dúvidas de muitos de nós, após os 70 anos.A única certeza adquirida (sem nada de religião), é que estamos mais e mais perto do final da existência fisica nesse planeta.É claro termos lido muito material sobre os estudos do além morte.Concordamos com uns e outros descartamos.De qualquer modo, fica a observação da repetição nos jovens de exatamente tudo vivenciado por nós, na idade deles.E AÍ?Paz pra todos.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Fruta Muito Madura, Cai Sózinha do Pé.




Decididamente, minhas amigas e eu, estamos numa fase de cair.É isso mesmo.Levar tombos.Cair sem escolher lugar ou horário.De preferência em lugares públicos e muita gente por perto pra assistir.Falei em fase porque em 2 meses caíram quase todas , nas mesmas semanas.Começou com a 1ª que levou um tombo no jardim da sua casa.Caiu de frente e quase precisou ser hospitalizada.Grande galo na testa, olho inchado e bem roxo.A 2ª, caiu da cama, enquanto dormia e quebrou o dedo do pé.Dá pra acreditar?Continua inexplicável como não quebrou a perna ou o braço ou nenhum outro lugar,só o dedão do pé.Eu fui a 3ª.Sempre me incomodava quando minha mãe cochilava e eu externava assim: ¨mãe pelo amor de Deus, parece que a senhora vive dormindo em qualquer lugar, é vendo TV, com a gente conversando...¨ Ela respondia: ¨...deixa quando tiver a minha idade...é incontrolável o cochilar..¨.Realmente.Ao atingir 69 e 70 anos vivo cochilando.As vezes to vendo um filme que programei pra ver e lá pelas tantas, percebo estar no final e sei então, ter dormido o filme todo.Só acontece quando estou confortável, sentada ou deitada no sofá com o apoio dos encostos mais almofadas e tal,impedindo minha ida para o chão. Alexandre estava aqui com minha nora e eu me sentei no puf (assento redondo sem encosto) da Dolly, pois eles estavam esparramados no sofá.Eles se levantaram e foram para o quarto atender a webcam.Continuei a ver o filme e dei uma cochilada rápida.Voltei a mim e pensei assistir só mais um pouco e daí, acordei no chão caída de frente.Um tombaço.Bati com a boca na quina da mesa e cortei os lábios. Hoje tenho de agradecer a Deus não ter ficado sem os dentes da frente. O inchaço de uns 5 centimetros na parte inferior e superior dos lábios que após o susto, meu filho gozador foi logo fazendo piada: ¨mãe, se vc passar um batom bem vermelho na boca, vai ser confundida com a Angelina Joly...¨ Bem..., a 4ª foi castigo devido ao tanto de riso as minhas custas,ao me olhar na boca.Quebrou o pé, ao entrar no carro dela.Tá até hoje de bota e ainda caiu da cama , com bota e tudo e machucou o rosto.A 5ª foi em plena avenida movimentada, comigo do lado.Sabe aquele tombo que tem o apelido de ¨cata cavaco?”Caiu tentando não cair.Mas caiu.A 6ª, não vi, mas caiu de frente bem no ponto de ônibus.Ficou muito machucada.A 7ª, foi minha vizinha querida e preferida.Aconteceu hoje em local movimentado.Também caiu de frente.Ficou machucada e teve 12 pontos nos lábios.Teve de dormir na casa da filha.Acredito,já que estamos mais ou menos na mesma faixa de idade,que estamos MUITO E MUITO maduras.Por isso caímos tanto.Agora estou andando e levantando os pés.Segundo a Ana Maria Braga,os idosos caem porque tendem ao andar, arrastar os pés ao invés de levanta-los.De qualquer modo, agradeço a Deus por nenhuma de nós ter sofrido algo mais grave.Paz a todos.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

MARIA ABENÇOADA



MARIA ABENÇOADA.

Lá se foi uma amiga muito e muito querida que nunca deixou de estar presente nos momentos mais decisivos da minha vida.Ela se chamava Maria e quando a conheci, logo que chegou a Valadares,dava aulas de Ioga para mulheres e seu marido dava Ioga para homens.Ela tinha sido criada pela família do marido.Seu nome, Antonio.Ele tinha fortes tendências para a vida religiosa e se preparou para seguir sua vida. Cumpriu todos as regras e estudos no Seminário e se tornou padre.Maria então, se tornou freira.Quando ele alcançou o bispado, aliás o 1º bispo no Brasil a renunciar , eles descobriram o grande amor que os envolvia.Ambos renunciaram e se uniram.Ninguém tem a menor noção de como esse casal ajudou E UNIU casais em conflito, aqui em Valadares.Só a mais ou menos 6 anos atrás, o Papa liberou o casamento de ambos pelos rituais católicos.
Imagine o sofrimento pra pessoas profundamente católicos,suportarem tal situação.
Eles começaram a crescer a partir do momento que pegaram a franquia do Finsk pra Valadares e o Professor Antonio(como ficou conhecido) dando aulas nas Faculdades de Administração e Direito de Valadares.Estavam sempre tentando e trazendo cursos para melhorar as pessoas em Valadares.Entre eles o “Control Mind”, que me fez tão bem.Através das técnicas desse curso, pude diminuir 80º do meu problema de enxaqueca.Fundaram a Escola Mariam,sem fins lucrativos, especialmente para preparar empregadas domésticas e donas de casa a iniciarem sua vida doméstica.
Quando anos mais tarde, retornaram de um longo passeio na Índia, me convidaram pra ver vídeos que de lá trouxeram , inclusive uma entrevista com Maria Tereza de Calcutá e fitas de cânticos lindíssimas para meditação,que guardo e ouço com o maior carinho.
Eram muito ecléticos.Respeitavam e colaboravam com movimentos Espírita, budismo, Seicho-no-ie ,Ioga e palestras evangélicas .Quando fizeram reforma na linda casa que moravam, fizeram de um cômodo, uma linda capela com todos os aparatos de uma pequena igreja católica.
Algo que nunca poderei esquecer foi quando da morte da minha mãe.Maria veio a minha casa na véspera da ida da mamãe.Ela me perguntou: ¨você precisa de algo? Posso ajudar em alguma coisa?¨ Respondi:¨não, muito obrigada,pois está tudo sob controle¨. Ela então fez um cheque e disse: “ vou deixar um tanto aqui e se precisar use-o, pois estou apenas sendo instrumento”.
Agradeci e o coloquei,sem mesmo ver quanto era de tão embaraçada que fiquei , embaixo de um adorno .No outro dia minha mãe se foi e quando meu filho me disse quanto era, todo aquele ritual de caixão,sepultura e tal, falei pra ele: Pega o cheque da Maria e vê se ajuda.Ele obedeceu e falou: “ mãe não só ajuda mas dá pra cobrir tudo”.Foi um grande alivio pois estava numa situação difícil, já que não tínhamos nenhum plano de saúde naquela época.Então posso dizer, ser a Maria um anjo enviado por Deus.Como ela apareceu justamente nas vésperas da ida da mamãe?Como ela sabia o total de dinheiro gasto em um funeral?No enterro da mamãe, lá estava ela rezando comigo o salmo 23, o preferido da minha mãe.
Seu aniversário era 14 de abril.Nesse dia, nas minhas meditações,sempre a imaginava coberta por uma luz faiscante roxo batata e sorrindo.Quando podia, enviava flores com apenas os dizeres: OBRIGADA.
Nas nossas discussões, falamos muito sobre o além morte.Por isso sei que ao acordar em outra dimensão,ela continuará seu aprendizado com energia diferente, substituindo a emanada pelo seu corpo físico nessa dimensão.PAZ E AMOR NA CONTINUAÇÃO DO SEU VIVER DIFERENTE.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011



Milagre Gozador de Santo Antonio.


Tive muita sorte em ter encontrado na minha vida profissional 2 diretores de escola bem diferentes de todos os que passaram por mim.A minha 1ª diretora realmente se interessava por professores que gostasse e tivesse bastante interesse por crianças.Ela priorizava muito aquele professor que arrumava tempo e fosse in loco saber o motivo de faltas e doenças dos alunos.No caso de doenças, tentasse consultas de cortesia e remedios gratuitos pra que retornassem as aulas.Fiquei com ela 5 anos initerruptos, sendo o último ano, dando aulas na área do recreio e cantina, pra que não ficasse desempregada, pois a partir daí, os contratos seriam feitos exclusivamente pela Delegacia de Ensino e não mais diretores de escola.
Como professora contratada, o meu maior medo, quando começava o mês de novembro, era se conseguiria contrato para o próximo ano.Os requisitos oficiais eu nem olhava,pois sabia que na prática funcionava assim: 1º requisito era nenhuma falta; 2º, seguir na íntegra as SUGESTÕES vindas da Secretaria do Estado da Educação no seu planejamento; 3º, diários bem feitos; e por último, seu desempenho e competência.Poderia até faltar os últimos requisitos, mas se fosse sempre presente e tivesse diários que não trouxessem nenhum problema pra secretaria,o lugar estava garantido.
Nos bastidores você teria de estudar um manual de DIPLOMACIA, pesquisado por você mesma,sem ninguém saber.Os estudos feitos que eu fazia a respeito, faria inveja a qualquer candidato pleiteando um cargo de diplomata, embaixador ou cônsul.Os colegas eram de níveis variados e por qualquer comentário “inadequado”, poderiam tomar não como algo profissional, mas sim pessoal e se sentiam muito ofendidos.TODO CUIDADO ERA POUCO...
Então, como devota de Santo Antonio,fiz uma trezena para quando saísse da 1ª diretora, tivesse emprego garantido.Se é coincidência ou não, o lugar pra onde me destinaram era NO BAIRRO SANTO ANTONIO E O NOME DA ESCOLA ERA ESCOLA ESTADUAL SANTO ANTONIO.Dá pra acreditar?
Essa escola ficava bem no alto de um morro bem íngreme.Você tinha de subir a pé,encurvada pra frente,pois se ficasse ereta, corria o risco de cair virada pra trás.Sua subida a pé, demorava 24 minutos.Meu horário era 12:45 em sala.Tinha de levar sombrinha, pois o sol em Valadares nesse horário fica muito zangado.O calor ali devia ir pra 45 graus.Quando chegasse lá em cima , se alguém pusesse a mão na sua boca com certeza você cairia desmaiada.
Então, tinha de deixar o carro lá em baixo.O problema maior era quando chovia.Como o morro era de terra batida,com a chuva ficava igual a estrada de quiabo.Subia uma passada e escorregava 4 pra trás.Logo contratei os serviços de um garoto que se apegava nas folhagens da beirada do caminho, segurando um cabo de vassoura numa ponta e eu na outra ponta.Ele me levava assim até lá em cima.Nesses casos, quando o caminho virava uma cachoeira de lama, tinha de levar embrulhado num plástico, roupas limpas pra se trocar antes de entrar em sala de aula.
Quando se notava temporal se formando, a diretora soltava alunos e professores mais cedo.Num desses dias escuros e raios caindo pra todo lado, e um bando de professores correndo caminho a baixo com medo dos raios pegarem algum tronco de árvore servindo de poste da luz elétrica,gritei bem alto:É SANTO ANTONIO,O SENHOR NÃO ME PEGA MAIS NÃO.NUNCA MAIS VOU FAZER TREZENA, NOVENA OU QUALQUER OUTRO PEDIDO.Muita sacanagem...
E assim, trabalhei 5 anos nessa escola

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Minha Mãe e Meu Padrasto




Minha Mãe e Meu Padrasto

Meu padrasto era português naturalizado.Quase em todos os natais da minha infância,o poder da sua cultura nos alcançava.Minha mãe, meu irmão e eu.Ele mandava tudo aquilo de que tinha sido acostumado a comemorar nessas datas.Então, recebíamos sacolas de nozes,que quebrávamos no vão da porta. (abríamos a porta e colocávamos as nozes ou castanhas na dobradura e ao fechar aporta, elas se quebravam), as castanhas cozidas pela minha mãe, doces secos tipo figos e outros tão comuns na terra dele, Portugal.Ele trabalhava com exportação de café e cacau.
Houve uma época em que o funcionário que trabalhasse mais de 10 anos numa firma, se tornava sócio de tal firma.Era o caso dele.Então seu contato com navios era intenso e daí, ganhávamos caixas e mais caixas de leite em pó,aveia, frango e doces enlatados.Eu adorava.Sempre tínhamos mingau de aveia de manhã.Não posso me queixar da minha alimentação durante minha infância.Dava boas vindas a tudo que pudesse me livrar, um pouco, das verduras da mamãe.Ela tinha o que se chama de ¨dedo verde¨.Qualquer pedaço de terra, ela logo transformava em pequena horta.Me lembro de uma parreira de chuchu enfeitando um pedaço do quintal e dava tanto chuchu, que eram dados para os vizinhos da rua e tínhamos de consumir xuxú quase todo dia.Ela até inventou uma moqueca de ovos com chuchu.Como sabia plantar, tínhamos alface,maxixe,couve,tomates cenouras e etc.Mesmo assim,eu continuava a reclamar, pois diariamente , comíamos peixe (era o mais barato.Raramente comíamos carne de boi pq era muito e muito caro),e o frango enlatado era só para os domingos.
O meu padrasto era um bom homem.Ele amava minha mãe e devido a esse sentimento,se preocupava muito comigo.Me lembro ao terminar o admissão para o ginásio, ele chegou em casa anunciando ter me matriculado numa escola de datilografia. Até pouco tempo,ainda tinha o certificado de término do curso.Engraçado ter estudado algo tão importante naquela época, hoje totalmente obsoleto.Eles se desentendiam, brigavam mas daí a pouco estavam novamente juntos.Ele se preocupava com minha educação e assinava tudo que fosse documento escolar.Mamãe só quis se mandar pra roça novamente, quando ele escorregou na bola e teve um caso com uma amiga sua.Nunca mais minha mãe foi a mesma.O seu sonho era arrumar um modo de ficar independente e deixa-lo.Como só sabia trabalhar na roça, ficava tentando voltar, porém tinha eu estudando, como faria?Me sinto muito responsável por ela ter continuado com ele.Não pela situação em si pois vejo traição nos relacionamentos como algo muito físico, sem nada a ver com o coração.Mas pela cabeça da minha mãe, isso de infidelidade, não caberia. E mesmo se violentando, teve que continuar ao lado dele.
Ela era uma mulher de muita fibra.Aprendeu a ler praticamente sozinha ,tal a ânsia que tinha em saber ler.Iniciou prestando atenção nos sons da grafia das letras na bíblia.Alguem explica aqui, outros explicam dali e assim,lia vagarosamente pra mim, histórias e mais histórias..Sim porque quando entrei pra escola ela já sabia ler, muito vagarosamente mas lia.Meu padrasto colaborava trazendo livros de histórias para crianças com letras grandes.Além disso ela tinha um dom pra contar história.Era uma delicia ouvi-la contando suas histórias de vida ou que ouvira da vovó Brasilina.
Mamãe tinha noções fortes de economia doméstica e aproveitava tudo.Os ternos mais velhos do meu padrasto eram transformados,após virarem do avesso, em taier,ou seja,a calça virava saia e o paletó o casaco.(taier naquela época corresponderia a saia e blaser de hoje).Sacos de estopa, viravam lindos tapetes em ponto de cruz sempre com motivos de animais.Minha s calcinhas intimas eram feitas de sacos de trigo lavados, alvejados e enfeitados nas beiradas com cianinha ou ponto russo.Ela fazia ponto paris pra fora.Cobrava por metro.Também se orientava pelas revistas da época, Jornal das Moças e FonFon.Acredito de tudo isto ter atraído meu padrasto com nível de estudo bem mais elevado.Quando ele esteve em Portugal,trouxe uma imagem da Senhora de Fátima em forma de uma caixinha de música.Era uma imagem linda que no escuro brilhava tanto que poderia servir de abajour.Juntava gente da vizinhança pra ver a imagem que brilhava no escuro.Era algo inexistente aqui no Brasil.Quando dava corda tocava o hino de Fátima...¨há treze de maio na cova da Iria apareceu brilhante a Virgem Maria...¨Esse presente chegou exatamente quando mamãe pensava seriamente em deixar meu padrasto.Porém, foi ele quem a deixou para a grande viagem após anos e anos mais tarde.Logo depois meu marido também fez a grande viagem e então mamãe veio morar comigo.Após 12 anos comigo ela também fez a grande viagem.Na véspera da sua viagem,rimos muito e eu lia as histórias de contos de fada que tanto gostava..Relembramos as músicas da Carmen Miranda que ela cantava tanto e eu encenava e fazia palhaçadas imitando-a. Ela ria tanto que pediu o remédio pra dormir.Eram quase 3 horas da madrugada. Suas últimas palavras foram: “ filha vai descansar, estou com a boca doendo de tanto rir. Deus te abençoe”Daí entrou em coma que só descobri as 4 horas do dia seguinte.E assim ela se foi.Pensei não conseguir sobreviver sem sua presença.Mas...ainda estou por aqui.De vez em quando sinto sua presença tão forte,principalmente quando acordo de manhã.Acordo com a sensação de ter mais gente aqui.Por segundos esqueço que ela se foi.

sábado, 29 de janeiro de 2011

O ANJO MANOEL


O ANJO MANOEL

Numa noite na véspera de Natal, uma menina moça chorava compulsivamente.Estava encolhida, debaixo de uma escadaria de cimento.Ela estava bem longe da sua mãe e naquele momento, desejava ardentemente dormir na sua velha e conhecida cama Patente.Era muito forte o desejo de sentir as mãos maternas acariciando sua testa e se estendendo por seus cabelos.Em posição fetal, escondia sua cabeça que balançava com a força das suas emoções.Ao ouvir passos, se assustou e levantou o rosto.A iluminação do poste estava exatamente sobre a imagem de um homem muito e muito alto.A principio pensou ser uma aparição, aos poucos percebeu ser um belo homem de cabelos e olhos negros e um imenso bigode.Se sentiu mais tranquila quando ele perguntou: “ o que aconteceu? Por que chora tanto?” Ela contou o motivo e a impossibilidade de sair naquela noite.
Ele fez a seguinte proposta:¨daqui até onde está sua mãe,são mais ou menos 4 a 5 horas de carro.Se sairmos agora, você estará com ela lá pelas 5 horas da manhã e passará o Natal junto a sua mãe¨.
A menina moça subiu as escadas e pegou alguns pertences, desceu entrou no carro daquela aparente aparição e se foi com ele.Nunca o tinha visto.Mas ele inspirava tal confiança que parecia ser um velho conhecido. A menina moça não teve a menor dúvida em acompanhar aquele ser.
Durante o trajeto ele lhe mostrou retratos de dois filhos e um retrato maior dos seus pais que moravam na Espanha.A mãe era muito linda com uma mantilha sobre a cabeça.O pai era ele mesmo, tal a semelhança.
Segundo ele, o amor dos seus pais, se desenvolveu através das colheitas de uvas, onde um cantava Los Pioneros e o outro, em local bem distante respondia completando a canção.
Até ai, a comunicação era só através de olhares.Ambas as famílias eram muito rígidas e até chegar as vias de fato, só se comunicavam pelos olhos e pelas canções.Entre elas,Los Pioneros.(clássico da música popular espanhola)Se quiser conhecerKICLE AQUI.
Então, Manoel(era esse o seu nome),cantava lindamente a música principal dos pais e outras em tom de flamingo, bem alto e voz de tenor.Assim foi viagem deles.Puro encantamento e Manoel sempre cantando músicas em espanhol, da sua infância e de seus pais.Quando ele disse chegamos, a menina moça mal acreditou que tivessem já ocorrido 5 horas.Pra ela, eles viajaram apenas 1 hora.Disseram Feliz Natal um para o outro e, NUNCA MAIS SE VIRAM.
A menina moça o procurou como se procura uma agulha no palheiro.Ninguem tinha visto e nem sabia dele.No hotel que ele deu referencia onde iria ficar, ninguém o viu.Se evaporou.Ele a deixou em frente a casa da sua mãe.Perguntou se alguém a tinha visto chegar, disseram sim, mas sozinha.Ela insistiu, mas vc não me viu chegando num carro x acompanhada de um homem moreno de bigode? Não.Voce chegou sozinha.
A menina moça se convenceu de ter estado com um anjo.O anjo Manoel.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011




MINHA BISAVÓ BRASILINA, SIM SENHOR!

Tem um velho ditado sempre repetido por minha mãe, na tentativa de passar pra mim....”quem nasceu pra dois mil réis, nunca chega a um milhão”.Olha só que coisa mais predestinada, limitada e desestimulante...,isto era lembrado quando eu tava imaginando coisas impossíveis pra cabeça sofrida e acostumada a resignação da mamãe. Qualquer obstáculo era como uma espécie de aviso pra retornar à sua condição de resignada com o ¨destino¨.Havia no ar uma certa ameaça de castigo,se insistisse, ante obstáculos,pra ela, intransponíveis a nível mental.Segundo sua fala, tudo tinha que ter ação física.Trabalho pesado,sofrido e de preferência com sol escaldante na cabeça.Assim ela tinha sido criada. Plantando,colhendo e nas horas vagas, fazendo remendos, ou com o socador de pilão(espécie de liquidificador na roça de muitos anos atrás) nas mãos, fazendo grãos de milho, arroz e raízes se transformarem em alimentos, a serem consumidos pela imensa família.E mesmo assim, enquanto agia com o corpo sua mente imaginava algo melhor.Segundo ela, enquanto com a enxada na mão,ouvia da escola ,professora ensinando a ler para alunos e entre eles, meu tio e seu irmão gêmeo fraterno(aos homens era necessário aprender a ler e escrever), lágrimas escorriam de vontade de lá estar ,também aprendendo.Havia uma incoerência com o ditado que apregoava e o existente pra valer no seu interior.Já com 10 anos captei a repetição como uma espécie de lealdade para com sua família e reformulei o ditado como: “quem nasceu pra dois mil réis,pode sim,chegar a um milhão.”
Naquele tempo infantil da minha mãe,só ficaria livre do trabalho bruto quem estivesse pra morrer.Foi mais ou menos o caso dela, desde o surgimento de uma ferida na sua perna esquerda.A falta total de assistência médica mais um pouco de conformismo na base do¨num adianta lutar..¨, mais o tempo passando,aumentaram o tamanho da ferida a ponto de não poder mais andar.Ela se arrastava. Não foi mais pra roça e ficava em casa sempre com panos enrolados na perna , pra dar conta do almoço e lanche pra ser enviado para as lavouras.Dessa forma, lá vinha o velho ditado se afirmando...¨não adianta...nasci pra viver assim...,nunca vou sair dessa vida¨
A tal ferida quase alcançou de um lado ao outro da perna.Ela achava que perderia a perna quando os lados se encontrassem.Fico imaginando- a se arrastando, com dores, sem carinho,pois minha avó era muito rígida e poderia até achar que tal estado teria sido inventado por ela, pra não ficar trabalhando.A salvação veio da minha amada bisavó num momento triste da sua vida. Separou-se do meu bisavô por ele ter se encantado por outra mulher.Deve ter sido muito difícil enfrentar uma separação com quase 50 anos de casados.Tiveram 19 filhos.Ela juntou os seis filhos solteiros, disse adeus e foi morar com a filha mais velha, minha avó. Minha bisavó era parteira e entendia seu trabalho como missão, dom de Deus.Era inútil querer pagar por seus trabalhos.Se insistisse,ela tomava como ofensa.Além disso era quitandeira.Ou seja, era chamada pra fazer doces, assar leitoas e tudo para um casamento na roça.
Por quitandeira ela cobrava.As vezes ficava de uma à duas semanas em fazendas ou regiões mais afastadas, trabalhando dia e noite.Fazia doce de feijão, mamão,banana,figos,casca de laranjas, limão,goiabas e bolos e pães.Enchia tonéis de vários tipos de doces. Matava, limpava e assava pequenas leitoas,frangos e carnes de boi.Assim, conseguiu com sucesso, a sobrevivência dos seus filhos e ainda ajudava minha avó.
Com seus conhecimentos de ervas, emplastos e sei lá mais o que, curou a perna da minha mãe.Era a matriarca.Qualquer decisão teria que ter o seu aval.Quando minha mãe resolveu trabalhar na vila mais próxima e conheceu um italiano e engravidou do meu irmão,ela teve todo o apoio da minha bisavó ao recusar o pedido de casamento,quando ele foi falar com minha avó.Minha bisavó só perguntou pra minha mãe:¨ você quer se casar com ele?¨Minha mãe respondeu: “não”.Ela falou:”não haverá casamento”.Minha avó quase teve um enfarto cerebral.
Esta decisão levou minha mãe a trabalhar na roça numa disciplina mais rígida por quase 3 anos.Daí, o pároco de uma cidadezinha mais próxima e muito chegado a minha bisavó,devido aos remendos perfeitos e ajudas com a feitura de doces para ajudar a igreja,solicitou uma pessoa de confiança para
trabalhar na casa de uma família. Essa família estava encontrando muitas dificuldades com o pai idoso e viúvo a pouco tempo.
Minha bisavó não teve dúvidas.Indicou minha mãe.Não sei como aconteceu,talvez o medo de perder o emprego,já que havia uma grande aversão da minha mãe pelo viúvo idoso.E assim, ao se descobrir grávida fugiu pra Vitória, capital do ES.Ficou meu irmão pra trás com minha avó.
Então, nasci em Vitória com a ajuda da Maria Babisk,amiga e de origem polonesa que morava numa chácara em Paul.Ela era uma espécie de madrinha do romance da mamãe e o meu padrasto.Me lembro do grande amor fraternal da minha mãe pela Maria que já tinha um filho de nome Joel.Não gosto nem de imaginar o tanto de tempo sofrido, naquela época,com filha no colo,trabalhar pra manter a mim e a ela.
Foi aí que surgiu o meu padrasto.Ficou apaixonado e assumiu minha mãe comigo junto.Então,eu tinha contato assíduo com Maria já que estava constantemente no sobrado onde passamos a morar.Por isto me lembro tão bem dela.Principalmente no dia em que ouvi a porta da escada bater e fui ver quem era.Minha mãe veio correndo dizendo: “to aqui,venha Maria”, e ninguém apareceu.Minha mãe perguntou: “cadê a Maria?” “Ela tava me chamando...” devo ter respondido: “não sei, só ouvi a porta bater e vim ver quem era...” no outro dia, à noite veio a noticia: Maria tinha sido atropelada no passeio onde esperava um ônibus no Rio de Janeiro.Morreu na hora.Estavam indo parentes pra buscar o corpo.
Após três anos,mamãe se desentendeu com meu padrasto e foi até onde estavam seus familiares e entre eles o meu irmão.Viajamos de trem e em Colatina pegamos um ônibus para encontra-los.Após umas 5 horas de viagem chegamos ao nosso destino.Ficamos na casa de um Tio que já estava nos esperando.Como já estavam todos combinados,dormimos e no outro dia, chegaram minha avó,seu marido,meu irmão e a tia Judith.Eu com uma boneca de papelão do tamanho de um bêbê,com roupa de papel crepon.Meu irmão se escondia atrás da minha avó pra não abraçar mamãe.Dormimos e no outro dia...cade minha mãe?...Foi embora.Eu? Tive de acompanhar os parentes por quase um dia inteiro, a pé.Se sentia alguma coisa,não me lembro.Acompanhava calada as pessoas estranhas e tudo era novidade.Nunca tinha visto formigas. Quando via formigas grandes, parava pra ver e todos riam da minha ignorância.E assim era com tudo.
Ao chegar no nosso destino entramos em uma casa de tabuas com gretas entre as tabuas e de cara um fogão à lenha com bancos dos lados.Minha bisavó,pegou minha mão e me colocou sentada sobre um banco ao lado do fogão.Me entregou um prato de ágata, com feijão em caroços,um pedaço de polenta, arroz e um pedaço de carne.
Ao receber o alimento, ia pegando os caroços de feijão e empurrando pelas gretas das tabuas.Acho que a única a perceber foi minha bisavó que pegou uma faca e cortou bananas de um cacho pendurado no teto e colocou nas brasas do fogão á lenha. Pegou meu prato, descascou as bananas quentes e me devolveu o prato com bananas assadas nas brasas sem os outros alimentos.Comi tudo.Desde então,fui oficialmente adotada por ela e durante minha permanência com eles, nunca mais nos separamos. Até pra dormir, dormia no canto da sua cama. Quando ela era chamada para fazer algum parto e a pessoa que a chamava não tinha condições de mandar animal pra irmos á cavalo, seguíamos trilhas,as vezes, debaixo da lua cheia, ela na frente com seu embornal de apretechos de parto e eu atrás, seguindo-a. Quando minha mãe retornou pra me buscar, eu chorava tanto e gritava não querendo ir.Precisou dela me pegar no colo, em gritos e me colocar no colo da minha mãe pra que me resignasse ,por aquele momento de despedida e final de um ciclo.
Consegui segurar pedaços da história da minha bisavó.Sua mãe se chamava Francelina e fora criada com pessoas que lhe ensinaram culinária,fazer rendas e obediência.Ela era resultado da união de índio com branco. Seu marido se chamava Marcelino.Ele era mulato e tinha sido ou era feitor de escravos.Francelina, parece, sentia amor pra valer pelo filho da sua família protetora.Como tinha aprendido direitinho a cartilha da obediência, aos 13 anos se casou com o escolhido da família que não era o seu amor, pra evitar problemas futuros.A partir daí,levava a família muito a sério..Das suas filhas, somente a minha bisavó e outra irmã,aprenderam a arte de fazer doces e trazer crianças dos seus semelhantes ao mundo.
Dona Brasilina,minha bisavó, como era chamada, era o dinamismo personificado.Não gostava muito de falar mas vivia fazendo Hum... rum... rum... rum...rum melódico e baixinho, enquanto estivesse fazendo qualquer atividade.Uma lembrança que amo recordar é quando íamos tomar banho no rio.Ela tomava banho de combinação(peça intima utilizada por baixo de qualquer vestido.Era do mesmo tamanho do vestido ,só que de alças.).Usávamos sabão feito em casa.Ela sentava numa pedra e como eu era muito pequena, me punha numa pedra maior, atrás dela, pra ajudar a enrolar os longos cabelos que iam pra baixo da cintura.Adoro me lembrar disso.
Como também gosto de imagina-la, cuidando em total silencio, do meu bisavô que voltou alquebrado e doente para a família.Ela cuidava,dava banho,alimentava-o mas não respondia o que ele perguntava ou qualquer outra palavra era dirigida a ele.(Fiquei sabendo muito depois pelos parentes).Até que minha avó, chorando pediu: ¨mãe pelo amor de Deus perdoe o papai.Ele está agonizando e não consegue morrer esperando sua fala de perdão¨.Ela se levantou de onde estava, se dirigiu para o quarto onde estava meu bisavô.Todos a acompanharam e viram e ouviram: “ Vá em Paz.Você está perdoado.Eu o perdôo”.Isto dito olhos nos olhos e ele apertando sua mão.Ela se desvencilhou da mão dele, voltou pra onde estava sentada, fora do quarto.Ele se foi de madrugada.É isso ai vó, “quem nasceu pra dois mil réis pode sim, pode chegar não a um milhão, mas vários milhões.”
O meu carinho e amor pra você, onde quer que esteja.