Em Qualquer Cidade de Minas Gerais

Em Qualquer Cidade de Minas Gerais

Sempre tive vontade de registrar o meu dia a dia.Na adolescência, babava de inveja , ao ver colegas que tinham um diário.Ali escreviam seus sonhos, as mágoas , o 1º beijo e tal...Tínhamos uma situação financeira e econômica muito instável e não havia a menor possibilidade de comprar um caderno bem bonito, especial e escrito na capa MEU DIARIO. E assim , a adolescência acabou, veio a vida adulta , a super adulta e enfim cheguei na 3ª idade sem nunca ter realizado esse sonho idiota para alguns , terapia para outros e para muitos como eu ,que ainda tenham a insistência e a teimosia em alimentar a criança existente em nós . Então veio a idéia de criar um blog em que pudesse registrar o cotidiano de uma senhora idosa , sem culpas ou medo do ridículo .Hoje é bem melhor porque a gente escreve para o vento, pra gente mesmo.Totalmente irresponsável e sem compromisso de agradar ou não.Simplesmente pelo prazer de falar do seu dia a dia vivido em qualquer cidade de Minas Gerais ou qualquer espaço físico vivenciado por mim.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

A      A MALA


       Houve um tempo em minha vida, do cansaço físico  ser tão grande que comecei a delirar,  imaginando como deveria ser o descanso eterno.Teria de andar?Ou simplesmente  deslizaria  por entre as nuvens , numa espécie de levitação não precisando de mover nenhum movimento,nenhum músculo, nada e nada.Não entrava no meu delírio suicídio ou morrer.Apenas queria descansar, voar por ai, sem lenço e sem documento como dizia Caetano,sem filas de banco,sem preocupação com entes queridos doentes,futuro de filho,contas pra pagar,resolver pequenos problemas domésticos tipo onde achar pedreiro ou eletricista e por ai afora...Pra chegar a ter desejo tão forte de descanso,é necessário falar de como eram meus dias, ano após ano. Saia de casa as 7:20 da manhã.As 11 horas,caso não tivesse nada pra pagar, comprar alimentos,poderia substituir o sanduiche, da hora do almoço, por uma refeição rápida com minha mãe em casa.As 13 horas voltava para o trabalho e só as 6:00 da tarde sairia correndo para outro emprego e  dar aulas até 22:30.Finais de semana?Ou estava viajando a serviço pela zona rural ou preparando e cozinhando os alimentos para semanaseguinte.Férias? Eu as vendia por extrema necessidade.Foi logo que fiquei viúva.
              Foi aí ,que virei personagem.Lidava com público o tempo inteiro e não havia reclamações. Sempre alguém procurando  e solicitando minha presença.Que presença?A de uma jovem alegre,risonha,amável,extrovertida e brincalhona. No final do dia, ao chegar em casa,retirava  o papel do personagem e começava então a  sonhar ou delirar.
               Naquele tempo,não tinha ,como hoje armários embutidos.Havia um velho guarda-roupa e sobre ele uma grande mala.Todos os dias ,ao acordar me deparava com a velha mala em cima do guarda-roupa.Sempre fazia minhas orações solicitando a Deus que caso eu fizesse a grande viagem dormindo que ele tomasse as providencias para que eu não ficasse assustada.Que ele me encaminhasse ou mandasse alguém falando claramente o que estaria acontecendo e me protegesse.Me lembro que  eu ainda reforçava o pedido pra não surgirem códigos .Explicar bem claro.Fechava os olhos e só acordava com o despertador para as 5:30horas da manhã.Abria os olhos bem devagar pra ver se não via a mala, pois se tal ocorresse, era sinal de que eu tinha ido,ou estaria em outra dimensão.
Mas lá estava ela. Firme e sólida.E  eu sempre com  a mesma reclamação:” OH Deus! Outra vez? Por que? Ainda estou aqui e tenho outro dia inteiro pra enfrentar.”.
Meio decepcionada tomava banho me vestia e ao chegar na Delegacia comentava com meu colega JERRY. Ainda não foi dessa vez. A mala continua lá. Ele ria e no meu aniversário me deu esse poema.


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