A A MALA
Houve um tempo em minha vida, do cansaço
físico ser tão grande que comecei a
delirar, imaginando como deveria ser o
descanso eterno.Teria de andar?Ou simplesmente
deslizaria por entre as nuvens ,
numa espécie de levitação não precisando de mover nenhum movimento,nenhum
músculo, nada e nada.Não entrava no meu delírio suicídio ou morrer.Apenas
queria descansar, voar por ai, sem lenço e sem documento como dizia Caetano,sem
filas de banco,sem preocupação com entes queridos doentes,futuro de
filho,contas pra pagar,resolver pequenos problemas domésticos tipo onde achar
pedreiro ou eletricista e por ai afora...Pra chegar a ter desejo tão forte de
descanso,é necessário falar de como eram meus dias, ano após ano. Saia de casa
as 7:20 da manhã.As 11 horas,caso não tivesse nada pra pagar, comprar
alimentos,poderia substituir o sanduiche, da hora do almoço, por uma refeição
rápida com minha mãe em casa.As 13 horas voltava para o trabalho e só as 6:00
da tarde sairia correndo para outro emprego e
dar aulas até 22:30.Finais de semana?Ou estava viajando a serviço pela
zona rural ou preparando e cozinhando os alimentos para semanaseguinte.Férias?
Eu as vendia por extrema necessidade.Foi logo que fiquei viúva.
Foi aí ,que virei personagem.Lidava
com público o tempo inteiro e não havia reclamações. Sempre alguém
procurando e solicitando minha
presença.Que presença?A de uma jovem alegre,risonha,amável,extrovertida e
brincalhona. No final do dia, ao chegar em casa,retirava o papel do personagem e começava então a sonhar ou delirar.
Naquele tempo,não tinha ,como
hoje armários embutidos.Havia um velho guarda-roupa e sobre ele uma grande
mala.Todos os dias ,ao acordar me deparava com a velha mala em cima do
guarda-roupa.Sempre fazia minhas orações solicitando a Deus que caso eu fizesse
a grande viagem dormindo que ele tomasse as providencias para que eu não
ficasse assustada.Que ele me encaminhasse ou mandasse alguém falando claramente
o que estaria acontecendo e me protegesse.Me lembro que eu ainda reforçava o pedido pra não surgirem
códigos .Explicar bem claro.Fechava os olhos e só acordava com o despertador
para as 5:30horas da manhã.Abria os olhos bem devagar pra ver se não via a
mala, pois se tal ocorresse, era sinal de que eu tinha ido,ou estaria em outra
dimensão.
Mas
lá estava ela. Firme e sólida.E eu sempre
com a mesma reclamação:” OH Deus! Outra
vez? Por que? Ainda estou aqui e tenho outro dia inteiro pra enfrentar.”.
Meio
decepcionada tomava banho me vestia e ao chegar na Delegacia comentava com meu
colega JERRY. Ainda não foi dessa vez. A mala continua lá. Ele ria e no meu
aniversário me deu esse poema.
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