Em Qualquer Cidade de Minas Gerais

Em Qualquer Cidade de Minas Gerais

Sempre tive vontade de registrar o meu dia a dia.Na adolescência, babava de inveja , ao ver colegas que tinham um diário.Ali escreviam seus sonhos, as mágoas , o 1º beijo e tal...Tínhamos uma situação financeira e econômica muito instável e não havia a menor possibilidade de comprar um caderno bem bonito, especial e escrito na capa MEU DIARIO. E assim , a adolescência acabou, veio a vida adulta , a super adulta e enfim cheguei na 3ª idade sem nunca ter realizado esse sonho idiota para alguns , terapia para outros e para muitos como eu ,que ainda tenham a insistência e a teimosia em alimentar a criança existente em nós . Então veio a idéia de criar um blog em que pudesse registrar o cotidiano de uma senhora idosa , sem culpas ou medo do ridículo .Hoje é bem melhor porque a gente escreve para o vento, pra gente mesmo.Totalmente irresponsável e sem compromisso de agradar ou não.Simplesmente pelo prazer de falar do seu dia a dia vivido em qualquer cidade de Minas Gerais ou qualquer espaço físico vivenciado por mim.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

SAUDOSO CINEMA POLITEAMA


CINEMA POLITEAMA.

Atualmente o antigo Politeama se transformou no cinema santa Cecilia e hoje pertence a uma igreja evangelica, conforme foto.



Lá pelos idos de 1945, O cinema Politeama ficava localizado no centro de Vitória ES,numa esquina em que um lado dava pra Av. da Republica e o outro lado para o Parque Moscoso.Parecia mais um grande barracão de tábuas, instalado em toda a esquina, dando a entender que logo entraria em obras de construção.Coisa que nunca aconteceu, ou por outra,as tábuas não foram retiradas e, em seu lugar surgira outro Politeama.Pouco antes de sair de Vitória para sempre,o cinema tinha sido derrubado e em seu lugar surgiu um edifício de tantos andares e no térreo, o novo cinema Santa Cecília.Atualmente, funciona uma igreja protestante.
Mas naquele tempo, era um local freqüentado por todas as camadas sociais.Aos domingos, as matines ficavam lotadas de crianças e adolescentes.Seu interior possuía filas de cadeiras de madeiras sobre um piso de terra(se não me falha a memória), e uma imensa tela sobre um palco, coberto por uma cortina vermelha.Atrás do palco com a cortina, ficavam os bastidores do cinema.Mesas muito compridas com material de marcineiro e latas de tintas.Ali eram pintados os imensos quadros com as chamadas de publicidade para os filmes a serem apresentados.Hoje fico imaginando do homem responsável por tal trabalho ser um artista,pois transformava os pequenos retratos recebidos em forma de folhetos, em grandes painéis publicitários.Esse imenso espaço atrás do cinema, era limitado por uma porta, que dava continuidade para uma casa residencial.
Nessa casa, morava uma amiga da minha mãe de nome Ocarlina,casada com Sr.Pedro e mãe do Delmar e Dalton.Suas irmãs,Ninita pouco mais velha que eu, Dorotéia e Dionei, ambas já moças, também moravam na casa.A função das irmãs era limpar o cinema após os filmes exibidos à noite ou nos matinés ao domingo.Dona Ocarlina, na minha visão atual, uma grande guerreira, pois seu marido com doenças mentais,talvez não pudesse ajudar em nada na manutenção da família e ela trocava o aluguel da casa onde morava, pela manutenção da limpeza do espaço de filmagens.Costurava pra fora e tentava educar seus filhos de forma digna e saudável além de cuidar permanentemente do marido doente.
Assim, éramos 4 crianças brincando no naquele espaço, enquanto as irmãs faziam a limpeza.Procurávámos os papéis de bom-bons brilhantes no lixo retirado e depois brincávamos de joalheria após ter confeccionado muitos anéis e pulseiras com o material flexível de alumínio dos papéis que envolviam os bom-bons.Tínhamos anéis de ouro, brilhantes, prata e tal.Como a porta de entrada da casa era justamente ao lado da bilheteria do cinema, a gente expunha nosso tesouro, e entrava em euforia quando alguém parava pra ver nossas exposições.Como a Ninita pertencia á família de espanhóis, a organização era levada a sério.Me lembro que os lençóis da cama das nossas bonecas eram de lenços lavados e passados a ferro.Era uma delicia o nosso mundo do “faz de conta”.
De repente, dona Ocarlina expandiu seus ganhos financeiros ao montar uma pensão na mesma Av.Republica e então, ela ficava dividida entre as responsabilidades da sala de filmagens e sua pensão repleta de hóspedes.
Não sei como não virei artista de circo ou parque de diversões, por influência dos artistas que se hospedavam na pensão da Dona Ocarlina.Nesse momento de transição me vi em situação que se tornaria um verdadeiro trauma futuro.O sobrinho da dona Ocarlina, muito brincalhão,resolveu colocar uma horrenda mascara de palhaço e sair atrás de mim.Corri desesperada da pensão até o Politeama e ele atrás de mim.Lá, com mil labirintos que eu já conhecia, corri para as irmãs que faziam a limpeza e quase desmaiando me abracei à elas.Embora entre muitas gargalhadas,ele levou muitas cabadas de vassouras.Eu? Nunca mais pude me livrar de um intenso arrepio quando vejo um palhaço de teatro ou circo.
Mas o que me surpreende, é como vivenciei tantos conhecimentos, bem básicos é verdade, sobre o universo das artes, tais como a música, o teatro, o cinema e também literatura. VÁRIOS FILMES DE SUCESSO, SERIADOS, COMÉDIAS, SEMPRE VIA EM 1ª MÃO.COMO?
No palco da tela, havia 3 camadas ou vãos seguindo a altura do palco, bem altas e verticais.No primeiro vão,era bem próximo ao auditório, o 2º vão era mais atrás e era ai que a dona Ocarlina punha bancos,panos no chão e em total silencio, pra que ninguém soubesse, assistíamos os filmes meio de lado, mas com total visãO e sem pagar nada.Mamãe trazia amendoim torrado e pipocas feitas em casa e assim, de um lado, ficava o homem artista que tinha feito as propagandas, seus amigos, e do outro lado, o lado direito do palco, as crianças e mulheres.To me lembrando agora, do filme que mais influenciou minha mãe.Foi “ A GRANDE VALSA”, DO STRAUS.No outro dia, após ter assistido o filme, minha mãe arrumava a casa imitando a voz cantante da personagem.Pra nós, minha mãe e eu, era como se estívessemos num outro planeta.Foram descobertas mil, que recebemos através da dona Ocarlina.
Como sua pensão hospedava todos os artistas de circo ou de parques,ganhava bilhetes para assistir os espetáculos.Me lembro que já estava na escola e levava as colegas comigo, graças a Dona Ocarlina. Eu era olhada com admiração por estar tão chegada aos astros dos espetáculos e ter bilhetes gratuitos.Ela e minha mãe foram amigas durante muitos e muitos anos.Ela se desligou do cinema Politeama e ficou só com a pensão.Nós fomos nos distanciando devido as nossas moradas cada vez mais distante.A ultima noticia foi quando vi minha mãe chorando porque viram Dona Ocarlina , na rua, com vestido com a metade da bainha desmanchada e toda suja. Era difícil imagina-la assim, já que era extremamente vaidosa e muito elegante. Ela teve a mesma doença do seu marido. Logo depois vi novamente minha mãe em prantos devido a sua morte.
Nunca mais ouvi falar dos filhos ou das irmãs da Dona Ocarlina.
Mas aprendi muito com a Ninita, que hoje deve ter uns 2 ou 3 anos mais velha que eu, se é que ainda existe.Com ela freqüentava os seriados e filmes do FU-MAN-CHU no cinema Politeama.Era igual as novelas de hoje.Só que demorava uma semana pra gente seguir o próximo capitulo.Até o episódio seguinte, imaginávamos mil coisas.Era uma delicia.Muitas saudades do período do cinema Politeama.

Um comentário:

  1. Amiga,és espectacular contando as tuas histórias,mesmo que não queiramos,ficamos até ao fim sempre com o mesmo interesse,obrigada por partilhares coisas tão interessantes da tua vida.
    Um bom fim de semana com um beijinho.
    Miuíka

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