Em Qualquer Cidade de Minas Gerais

Em Qualquer Cidade de Minas Gerais

Sempre tive vontade de registrar o meu dia a dia.Na adolescência, babava de inveja , ao ver colegas que tinham um diário.Ali escreviam seus sonhos, as mágoas , o 1º beijo e tal...Tínhamos uma situação financeira e econômica muito instável e não havia a menor possibilidade de comprar um caderno bem bonito, especial e escrito na capa MEU DIARIO. E assim , a adolescência acabou, veio a vida adulta , a super adulta e enfim cheguei na 3ª idade sem nunca ter realizado esse sonho idiota para alguns , terapia para outros e para muitos como eu ,que ainda tenham a insistência e a teimosia em alimentar a criança existente em nós . Então veio a idéia de criar um blog em que pudesse registrar o cotidiano de uma senhora idosa , sem culpas ou medo do ridículo .Hoje é bem melhor porque a gente escreve para o vento, pra gente mesmo.Totalmente irresponsável e sem compromisso de agradar ou não.Simplesmente pelo prazer de falar do seu dia a dia vivido em qualquer cidade de Minas Gerais ou qualquer espaço físico vivenciado por mim.

domingo, 18 de julho de 2010


Saudades

Nas manhãs antes de ir trabalhar,minha mãe preparava uma mesa digno de hotel cinco estrelas.O que ela preparava com muito esmero eram as torradas.Quase sempre esquecia e as deixava queimar.Isto a aborrecia e a deixava muito nervosa.Por mais que avisasse não ser necessário preparar o café e que não tinha a menor importância.Ela insistia e para apazigua-la,dizia:¨mãe,ADORO torradas meia queimadas.É bom pra emagrecer...Tanto falava a ponto dela se convencer de vez que o melhor pra mim seriam torradas queimadas.Então,todos os dias comia um tanto de torradas queimadas que amargavam, e pra me livrar, disfarçava embrulhando outro tanto para ¨comer ¨ na hora do recreio no trabalho. Caso assim não fizesse o comportamento da minha mãe era preocupante e teria a seguinte resposta com lagrimas nos olhos: ¨Oh meu Deus! Sou uma imprestável,nem torradas sei mais fazer pros meus filhos!Por que Deus não me leva de uma vez?Não sirvo pra mais nada..¨.e chorava e chorava...eu ficava muito assustada e bolei uma forma de comer sempre tais torradas ou qualquer outro prato que fizesse, fosse com muito sal ou sem ele.Tá uma delicia, ta perfeito, assim respondia quando me perguntava com olhar de ansiedade se eu estava gostando.Em resposta ela sorria satisfeita e me beijava agradecida.
Agradecida ficava eu com meu colega de trabalho que se tornou a partir daí,um valioso e querido amigo.Seu nome,Jerônimo.Carinhosamente o chamo de JERRY.Um rapaz alto bela estampa,vasta cabeleira negra(hoje não tanto),e muito mas muito ¨caxias¨.Excelente profissional,defende seus direitos com unhas e dentes.Super sensível e muito mas muito generoso.Sabe o que ele fazia quando eu chegava pra ele e falava:¨Jerry,olha as torradas da mamãe...não agüentei comer tudo e trouxe pra jogar fora.Ele ,em silencio,descia até a padaria mais próxima e comprava pão fresco, manteiga e voltava com a sacola e comíamos na maior alegria.Era uma despesa diária por parte dele.Nunca cobrou ou fez a menor menção sobre o assunto.É um gentlleman, embora seja de origem portuguesa.Conhece a Europa incluindo Portugal,sua paixão.Quando lá esteve voltou que nem criança,extasiado e encantado.Foi assim a sua entrada na minha lista de amigos especiais.Como Santo Antonio, através dos pães.A partir daí,ficamos confidentes e não tem nada da minha vida desconhecido por ele.Choramos juntos várias vezes,brigamos(como qualquer dupla de irmãos)e rimos , rimos muito mesmo.Se tivesse de definir a nossa amizade através de uma música, com certeza seria a do Roberto Carlos:¨você meu amigo de fé camarada...¨Qualquer fato corriqueiro ,sonhos,conflitos ,mágoas, inseguranças ,medos,era ele quem me escutava e vice-verso.
Me aposentei e continuo com vínculos fortes com o Jerry.Hoje, sinto muitas saudades das torradas queimadas e dos papos diários com o Jerry.A saudade é meia doída,acho que ele entende e de vez em quando se materializa aqui, no meu universo chamado casa pra diminuir o meia doída. Mas mamãe não consegue (GRAÇAS A Deus) se materializar aqui, então sua presença física só pode ser sentida pela imaginação.Muitas saudades da época,da união da mamãe e Jerry na minha vida.

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