Em Qualquer Cidade de Minas Gerais

Em Qualquer Cidade de Minas Gerais

Sempre tive vontade de registrar o meu dia a dia.Na adolescência, babava de inveja , ao ver colegas que tinham um diário.Ali escreviam seus sonhos, as mágoas , o 1º beijo e tal...Tínhamos uma situação financeira e econômica muito instável e não havia a menor possibilidade de comprar um caderno bem bonito, especial e escrito na capa MEU DIARIO. E assim , a adolescência acabou, veio a vida adulta , a super adulta e enfim cheguei na 3ª idade sem nunca ter realizado esse sonho idiota para alguns , terapia para outros e para muitos como eu ,que ainda tenham a insistência e a teimosia em alimentar a criança existente em nós . Então veio a idéia de criar um blog em que pudesse registrar o cotidiano de uma senhora idosa , sem culpas ou medo do ridículo .Hoje é bem melhor porque a gente escreve para o vento, pra gente mesmo.Totalmente irresponsável e sem compromisso de agradar ou não.Simplesmente pelo prazer de falar do seu dia a dia vivido em qualquer cidade de Minas Gerais ou qualquer espaço físico vivenciado por mim.

sábado, 24 de julho de 2010


SERÁ????

Ouvindo pela TV um alerta sobre mudanças de escovas de dentes de 2 a 3 meses de uso é forma correta para não unir a determinadas bactérias ao seu organismo.Juntar as escovas então, seria candidato certo a futuras infecções.Deixa-las sem tampa, estaria captando do ar diversos organismos indesejáveis.... e por ai vai.Em seguida,no mesmo programa,fala das chupetas,bicos da mamadeira que devem ser trocados com assiduidade para evitar micróbios e mamadeiras não devem ser requentadas,ai vem o uso constante de fio dental e até uma pesquisa para mais anos de vida se usa fio dental.Tudo bem.Não entendo nadica de nada se me apertarem sobre a tecnologia de ponta e ultimas pesquisas sobre o assunto. Como leiga e simples humana, me envolvo totalmente no que passam na mídia, ou seja, o brasileiro vive mais e saudável e com tanta renovação tecnológica,a mulher de 50(evidentemente com alto poder aquisitivo),equivale fisicamente a uma de 30 do meu tempo.
No meu tempo de adolescente,ficava imaginando se conseguiria chegar aos 50 anos.Esta era uma data final.Me lembro que exclamava: “nossa,ela tem 50 anos? Pra mim era o fim da estrada”. “Será que chegarei até a velhice?” Então, todos os cuidados alertados nos dias de hoje devem ter infuído no aumento e jovialidade e vida dos seres.
Só que me vem uma duvidazinha!...,A composição do planeta mudou,ou seja ,vc assimilou a poluição e outros no seu sistema ou... pode ser marketing das industrias de escovas de dentes pra produzirem mais já que no meu tempo,por questões econômicas ,elas teriam de durar no mínimo um ano, ou talvez pra vida toda.As chupetas não podiam ser perdidas ou trocadas,caso contrário haveria a possibilidade do seu bêbê criar um grande trauma de tanto gritar pela sua chupeta perdida, horrível e desgastada.O fio dental foi uma glória,pois 2º a Danuza Leão,palito de dente deve ser usado no banheiro trancado e de luzes apagadas.Alguém da minha época deve se lembrar da mãozinha na boca , tapando o palitar dos dentes em restaurantes,já que vinha em todas as mesas e de todos os tipos(até de prata) , o paliteiro.
Foi tempo que o saudável era vc beber o leite diretamente da teta da vaca.Hoje, ele deverá passar por tantos processos de pasteurização antes de se beber,que chegaram a conclusão de se renovarem o modo das mamadeiras serem preparadas e consumidas ,entre eles, evitar requenta-las.
É isso aí...não tenho tempo de pesquisar e deixo para os profissionais(ÂNCORAS) de passar informações baseados em algumas pesquisas com fontes declaradas, e mesmo assim fico em dúvidas com o elo ou compromissos da emissora com o que esteja expondo.
Só quero afirmar dos meus dentes serem perfeitos e não tenho, ainda,nenhum dente que não seja meu.E aos 70 anos ainda não tenho dentadura ou implantes dentários como também, após chekup não apresento nenhum problema de saúde física que não seja considerado normal pra minha faixa etária, apesar de ter mudado raramente de ecova de dentes ou ter bebido leite diretamente do peito da vaca.

domingo, 18 de julho de 2010


Saudades

Nas manhãs antes de ir trabalhar,minha mãe preparava uma mesa digno de hotel cinco estrelas.O que ela preparava com muito esmero eram as torradas.Quase sempre esquecia e as deixava queimar.Isto a aborrecia e a deixava muito nervosa.Por mais que avisasse não ser necessário preparar o café e que não tinha a menor importância.Ela insistia e para apazigua-la,dizia:¨mãe,ADORO torradas meia queimadas.É bom pra emagrecer...Tanto falava a ponto dela se convencer de vez que o melhor pra mim seriam torradas queimadas.Então,todos os dias comia um tanto de torradas queimadas que amargavam, e pra me livrar, disfarçava embrulhando outro tanto para ¨comer ¨ na hora do recreio no trabalho. Caso assim não fizesse o comportamento da minha mãe era preocupante e teria a seguinte resposta com lagrimas nos olhos: ¨Oh meu Deus! Sou uma imprestável,nem torradas sei mais fazer pros meus filhos!Por que Deus não me leva de uma vez?Não sirvo pra mais nada..¨.e chorava e chorava...eu ficava muito assustada e bolei uma forma de comer sempre tais torradas ou qualquer outro prato que fizesse, fosse com muito sal ou sem ele.Tá uma delicia, ta perfeito, assim respondia quando me perguntava com olhar de ansiedade se eu estava gostando.Em resposta ela sorria satisfeita e me beijava agradecida.
Agradecida ficava eu com meu colega de trabalho que se tornou a partir daí,um valioso e querido amigo.Seu nome,Jerônimo.Carinhosamente o chamo de JERRY.Um rapaz alto bela estampa,vasta cabeleira negra(hoje não tanto),e muito mas muito ¨caxias¨.Excelente profissional,defende seus direitos com unhas e dentes.Super sensível e muito mas muito generoso.Sabe o que ele fazia quando eu chegava pra ele e falava:¨Jerry,olha as torradas da mamãe...não agüentei comer tudo e trouxe pra jogar fora.Ele ,em silencio,descia até a padaria mais próxima e comprava pão fresco, manteiga e voltava com a sacola e comíamos na maior alegria.Era uma despesa diária por parte dele.Nunca cobrou ou fez a menor menção sobre o assunto.É um gentlleman, embora seja de origem portuguesa.Conhece a Europa incluindo Portugal,sua paixão.Quando lá esteve voltou que nem criança,extasiado e encantado.Foi assim a sua entrada na minha lista de amigos especiais.Como Santo Antonio, através dos pães.A partir daí,ficamos confidentes e não tem nada da minha vida desconhecido por ele.Choramos juntos várias vezes,brigamos(como qualquer dupla de irmãos)e rimos , rimos muito mesmo.Se tivesse de definir a nossa amizade através de uma música, com certeza seria a do Roberto Carlos:¨você meu amigo de fé camarada...¨Qualquer fato corriqueiro ,sonhos,conflitos ,mágoas, inseguranças ,medos,era ele quem me escutava e vice-verso.
Me aposentei e continuo com vínculos fortes com o Jerry.Hoje, sinto muitas saudades das torradas queimadas e dos papos diários com o Jerry.A saudade é meia doída,acho que ele entende e de vez em quando se materializa aqui, no meu universo chamado casa pra diminuir o meia doída. Mas mamãe não consegue (GRAÇAS A Deus) se materializar aqui, então sua presença física só pode ser sentida pela imaginação.Muitas saudades da época,da união da mamãe e Jerry na minha vida.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Vizinha do Hotel Majestic



VIZINHA DO HOTEL MASJESTIC....


Quantas e quantas vezes passei em
frente ao hall de entrada do tão imponente., grandioso Hotel Majestic.Estava ,como está até hoje, localizado na rua Duque de Caxias em Vitória , capital do ES.Acho que era o prédio mais expressivo daquela rua. Não sabia exatamente a sua importância como fiquei sabendo mais tarde, como por exemplo de ter sido o único prédio daquela cidade, a ter, durante anos e anos, um elevador. O meu contato inicial com o hotel foi no ano de 1947 pouco antes de completar 7 anos de idade. Na minha visão infantil sua importância se dava devido a sua altura, sua entrada sempre com pessoas elegantes e a filha do proprietário.Ela era uma moça loura muito bonita , que pra mim, se assemelhava a uma fada . Fada que ,do seu 2º andar, de vez em quando , jogava brinquedos para as crianças que brincavam á noite , bem debaixo da sua janela.Estas crianças ficavam ali, cantando, correndo enquanto aguardavam das mães, o chamado ou gritos, para irem dormir. Com certeza ela sabia daqueles pobres e pequenos seres serem seus vizinhos.
Vizinhos e filhos apenas de mães , já que dificilmente se ouvisse ou visse chamados vin do de presença masculina.Eram os pequenos moradores do sobrado tipo casarão de 2 andares, exatamente colado ao hotel.
AH! Quantas e quantas vezes percorri aquela rua em direção a Praça Costa Pereira bem cedo, para comprar o pão ou passava em frente ao hall de entrada do hotel a caminho da escola.Quantas e quantas vezes ganhava álbuns de retalhos de tecidos(mostruário das fábricas de tecidos da época) que após vendidos em peças para as lojas, perdiam a utilidade. Os viajantes representantes das indústrias têxteis ficavam hospedados neste hotel.Então eles distribuíam tais mostruários e quando isto acontecia , era uma festa, pois fazíamos roupinhas lindas de bonecas e minha mãe fez até uma linda colcha de cama com os álbuns.(hoje seria chamado de colcha patchwork).Quantas e quantas vezes,subíamos uma pequena ladeira do lado do hotel, para chegar á Catedral, com intenção de brincar em volta ou entrar e rezar.Me lembro da gente rezar até pros anjos de gesso que estavam no teto do interior da catedral.Imagine, ela estava em construção ainda.
O casarão colado ao hotel,onde morávamos,apresentava uma construção aparentemente sólida com uma presença bem decadente. Deveria ter sido bonito, bem tratado e pertencido a pessoas de grandes posses, que por razões desconhecidas , passaram para pequeninissimas posses e alugaram para uma senhora que o transformou em uma espécie de pensão.Esta senhora dividiu a propriedade em vários quartos para alugar e, nestes quartos, residiam várias famílias de baixa renda , nacionalidades e estados civis diferentes.
No interior deste outrora poderoso casarão, havia 2 escadarias com 12 largos degraus para o 1º andar (contava e recontava logo que aprendi a contar), e 10, não tão largos, degraus para o 2º andar.
No 1º andar, após subir os 12 degraus, se chegava a um imenso salão e 4 portas de 4 quartos abriam nele,.ou seja,cada quarto tinha uma porta de entrada ou saída que dava neste salão. Havia mais 2 quartos com varanda de frente pra rua, 1 banheiro e um quintal onde ficavam 3 tanques
destinados a lavagem de roupas e muitos varais para pendura-las. Nesta hora, era o momento mais alto em comunicação entre aqueles estranhos moradores.Neste momento é que segredos e problemas eram expostos,questionados e concluídos.Uma fila de seres com bacias de roupa para serem lavadas, aguardavam sua vez.Enquanto esperavam, iam conversando e ora aconselhavam , ora pediam conselho.
Creio ser a solidariedade um sentimento comum, entre seres humanos que estejam vivenciando infortúnios.É o que se constatava entre os moradores adultos e infantis daquele casarão.Era como se existisse um elo invisível os ligando, independente de raça, nacionalidade ou sexo.Caso contrario como explicar a vontade repentina surgida de brincarmos com alguma criança, a pedido da mãe, enquanto recebia sua visita clandestina?Como explicar outros moradores infantis se aproximando e pegando a mão da pequenina ou pequenino e em silencio nos encaminhando pro quintal ou a rua?
O salão da entrada, era um espaço bem grande e em algum momento do passado, deveria ter sido o local de maior representação social daquela casa. Quando ali morei, o grandioso salão virou uma cozinha comunitária que servia a todas as pessoas que ali moravam
. Cada família tinha seu pedaço físico de acordo com suas posses.Então, fogões minúsculos à carvão , ficavam espalhados sobre caixotes e na hora do almoço, panelas fervilhavam com comidas de vários cheiros e espécies.Eu adorava este clima de movimentos e sempre experimentava ora comida chinesa,ora comida japonesa, ou alemã e italiana.
Mamãe e eu morávamos no 2º andar que tinha 5 quartos (um cômodo para cada família) e um banheiro para todos. Tínhamos como vizinhos um chinês, casado, com 2 filhos, iniciando seu negocio de lavanderia; uma cantora de rádio com uma filha, que recebia a visita constante de um senhor oficialmente casado com outra pessoa;uma japonesa vivendo com um brasileiro e mais 2 filhos;um engraxate de rua(a cadeira de engraxate ficava numa praça e sua profissão era assim conhecida) 2º seus relatos fora abandonado com 1 casal de filhos, pela esposa.
No 1º andar morava a filha da senhora que alugou a casa e tinha 4 filhos.Entre eles uma menina da minha idade chamada Tita.Minhas noções iniciais sobre amizade e solidariedade, aprendi com a Tita.
Não posso nem imaginar o que tudo isto representava para os proprietários e residentes do elegante hotel.Vagamente me lembro da palavra cortiço.Algumas vezes ouvia:” Pena o cortiço ao lado...” ou “ ...algo deveria ser feito para retirar o cortiço...” Era um verdadeiro contraste entre o sobrado e o hotel.
A 2ª escada para o 2º andar terminava exatamente quase na porta do quarto em que morávamos: minha mãe ,eu e de vez em quando , era completada com a visita do meu padrasto. No término da escada havia um espaço de 1x1 metros , e aí ,mamãe instalou o seu pequeno fogão a carvão,(NÃO HAVIA MAIS VAGA NO SALÃO) e ali se cozinhava o nosso almento.
Até hoje fico imaginando como mamãe conseguia cozinhar, fazer doces e até bolo
naquele minúsculo fogão.Como conseguia manter uma linda lata estampada de florzinha com fundo verde, sempre abastecida com doce de abóbora com coco, doce de leite ou batata doce. Pra mim era uma latinha mágica. Quando mamãe recebia visitas, servia o doce em pratinhos de louça e ficávamos nos deliciando , sentadas sobre a cama que sempre estava coberta com uma bonita colcha bege de crochê .Era um cômodo muito pequeno que só cabia a cama de casal, três caixotes delicadamente cobertos com lençóis. Um caixote, guardava os utencilios de cozinha.O outro,ficava uma bandeja com pratos, talheres e canecas e sobre ele ficava pendurada uma sacola de pano bordada com um grande pão em ponto de cruz, feito por mamãe.;sobre o outro e último, o batom, pó de arroz, água de colônia e leite de rosas e uma lata de talco Ross.
Uma mala ficava debaixo da cama com roupas pessoais e de cama.A nossa decoração estava sempre bem iluminada pelos dois janelões que , um de cada lado da quina do quarto nos dava 2 visões : uma , víamos só telhados das casas vizinhas e era só levantar mais o olhar, pra ver uma parte da Catedral (ainda em construção); e a outra , víamos os navios, uma casinha linda do outro lado, perto do Monte Penedo e um pedaço do mar.Os janelões eram do estilo guilhotina. Levantava a parte baixa para cima e se prendia com algo para não fechar e segundo minha mãe, muito perigoso... E assim , abertos ficavam até a noite , quando eram baixados e minha mãe terminava este ato me gritando , pois eu estava sempre brincando lá em baixo, na rua ,com outras crianças até a hora de ser chamada pra dormir.
Acredito ter sido um dos períodos mais marcantes e felizes da minha existência de 68 anos.Fui muito feliz nesta vizinhança com o hotel Majestic.Talvez por recordações tão fortes tenha me interessado pelo Google Earth e tenha tentado localizar a rua Duque de Caxias e o hotel Majestic.
Não existe mais o sobrado onde morei, como também muitos daqueles seres, não existem mais nesta dimensão.No lugar do sobrado existe um moderno prédio de apartamentos.A rua por onde corria e corria foi modernizada e talvez não a reconhecesse se não tivesse como ponto de referencia o prédio do Hotel Magestic mesmo não sendo mais um hotel. Porém..., existe a energia do espaço. Elevando o olhar para o alto, poderei reconhecer naquele pequeno céu sobre a rua, as mesmas estrelas que admirava quando só tinha por companheira a Tita, que por coincidência estava na mesma situação que eu , isto é, esperando ser chamada para dormir.
Nem sei se aquela rua continua com o mesmo nome de Duque de Caxias, Também não sei direito sua extensão.Nas minhas lembranças,a rua começava um pouco abaixo do prédio do hotel e terminava na Praça Costa Pereira.Esse trajeto que me colocava como vizinha do Magestic continuará sempre mágico pra mim.

domingo, 11 de julho de 2010

Um Dia De Maio de 2007


DIA 8 DE MAIO DE 2007

Estou desde as 3 horas da manhã tentando dormir.E olhe que tomei remedinho para dormir.Cochilava até as 4 e novamente acordava de todo.As 5 horas a mesma novela.Parecia remédio de hora em hora.Lá pelas 6, levantei de vez e tomei banho, fiz um café e comecei a refletir.
Será que era porque tinha mais de quatro atividades pra resolver durante o dia, antes do trabalho? Era assim mesmo aos 66anos?Ou seria Medo do futuro?O que era afinal?
Comecei pelas atividades que teria que desenrolar.Já sabia pelo recado da secretaria eletrônica, alguém de um banco querendo me contatar..Assim que sorvi a 2ª xícara de café tentei informações pra saber da existência do tal número. A telefonista resumiu com outro numero bem diferente e foi a conta pra ficar aflita.Daí surgiram mais uns 6 telefonemas pra se chegar a conclusão do banco estar oferecendo uma promoção de empréstimo para clientes especiais.Especiais aqui quer dizer: funcionário público onde o pagamento de tal empréstimo é descontado direto nos contra-cheques.Até a minha negativa, este processo todo demorou mais ou menos 2 horas e meia.Resolvido o problema, passei pra próxima atividade me dirigindo para sessão de fisioterapia para o meu ombro fraturado em um acidente em sala de aula. Nestes momentos não sentia nenhum prazer de viver sozinha, pois sou destra e inútil da mão esquerda.Não tinha a menor intenção de incomodar amigos ou pedir favores que ficaria o resto da vida pagando e nunca terminaria a dívida.Outro desprazer de se viver sozinha.
Ao chegar à clinica iniciei meus exercícios e senti energia triste no ar.Dona Laurinha, minha companheira de horário,é uma senhora de 84 anos, muito alegre e conversada.Ela traz licores de frutas, juntamente com receitas pra gente experimentar.Precisa ver o orgulho ao passar e explicar as receitas.Foi funcionária pública a nível federal, e agora aposentada.Estava sempre tecendo algo.Ela Se tornou o alvo da minha admiração devido ao seu alto astral.Mas hoje ela está muito abatida e óculos escuros(pra esconder o inchaço dos olhos de tanto chorar), os movimentos corporais estão lentos e desanimados.É como quisesse estar invisível. Sem saber bem porque me deu uma vontade de abraça-la e passar as mão sobre sua cabeça.Se seguisse meu impulso diriam ser eu alguma louca,afinal só a conhecia a 2 meses dos exercícios , nem sabia onde morava ...A fisioterapeuta me falou de modo bem discreto que ficara sabendo do que ela enfrentou, frente ao juiz, os dizeres brutais e humilhantes dos netos, filhos de uma filha morta em acidente.Tinha sido tão forte que repercutiu entre as autoridades que a conhecia e sabiam da sua dedicação em relação aos netos.As vezes os jovens podem ser muito cruéis com os idosos...e, ali estava uma idosa solitária de 84 anos, machucada, infeliz e muito, muito triste.
Oh! Meu Deus, o dia ainda estava pela metade e eu já tinha participado de vários momentos conflitantes...Pra fechar, a secretaria da clinica me informou que meu plano de saúde não cobria mais de 40 sessões de fisioterapia.Então ou teria de parar com os exercícios ou pagar mais 10 sessões com dinheiro.Imagine! Iria parar, pois boa parte do meu salário vai para o plano de saúde...
Me recuso a apagar da minha tela mental os finais felizes da velhice.Na minha tela está: um casal de velhos que caminharam juntos sendo recompensados pelo tanto que fizeram para os seus filhos,para os seus semelhantes e o quanto contribuíram para sua nação.A velhinha tem sempre um sorriso bonito ,como a dona Laurinha, suas mãos ainda ágeis,tecem qualquer coisa numa confortável cadeira de balanço,e ,muitos descendentes a sua volta ouvindo com respeito e gratidão suas experiências. O velhinho companheiro com olhar terno e amoroso se deliciando com este quadro.Na minha tela mental há um clima de segurança e amor.
Não quero ver velhinhos sozinhos,solitários,com dor,sem condições dignas de sobrevivência. Por favor, Deus não deixe que eu perceba ou veja. Me torne mesmo bem alienada,pra não captar a desesperança,as famílias aleijadas(sempre faltando alguém) e a tensão se acumulando e levando tantos finais a se abreviarem.Seja lá o que não me deixou dormir se afastará e vou dormir com minha tela bonita de finais lindos para os da minha idade, e de preferência com planos de saúde que cubram todas as sessões de fisioterapia.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Delicia cantar no chuveiro


Hoje me peguei cantando no chuveiro.Há muito , mas muito tempo mesmo isto não acontecia.Como faz bem estar livre de relógios,prestações de conta, de presenças comprovadas através da assinatura de ponto,ter de ser alegre e feliz com dor de cabeça, hérnia de disco e por ai afora..Há 2 anos atrás, ficava surpresa por me sentir tão bem em sala de aula.Me empolgava e vivia numa completa interação com alunos.Me divertia muito.Minha alegria os contagiava.Não via as horas passarem.Ficava abobada por receber salário para dar aulas.De repente, passei a ter muita impaciência pra tudo.O comentário de colegas, a fala deles soava aos meus ouvidos, como se tivessem falando outro idioma.Muito mal estar no espaço físico escolar.
Comecei a me questionar: seria pq estava com 67 anos? Seria normal tal comportamento, já que estava envelhecendo?Fui atrás de ajuda.Quem sabe não faltava alguma vitamina....o diagnóstico veio como uma bomba.Stress profundo e síndrome do pânico.O médico devia estar brincando.Só podia ser uma piada.Ele então fez um histórico da minha vida pra me convencer: 8 horas de trabalho administrativo, mais viagens nos finais de semana a serviço, mais 4 horas noturnas dando aulas, mãe e 1 filho sob sua responsabilidade, tudo isto por 30 anos initerruptos,pois vc vendia suas férias ,só podia gerar esta conclusão.Juntando tudo isto à sua grande decepção com a educação...Ai ele me afastou da regência e em seguida fez algo que deve ser pra pagar minha língua.Um ano fora do ambiente de trabalho.Então me lembrei da minha mãe muito querida e me ajudou muito na minha caminhada. Ela dizia:¨... O que falamos do nosso semelhante ,com certeza iremos pagar”.Me lembro das coitadas de algumas colegas que viviam de licença de saúde.Naquela época,eu era bem mais jovem e trabalhava com febre,grip,TPM e me sentia (coisa feia) acima de tais colegas.Comentava com minha mãe o absurdo e tal.
Nos primeiros meses me senti horrível.Sabe quando dão a vc um trabalho pra dar conta e vc não consegue terminar? Aí vem uma sensação de frustação, incompetência e incapacidade.Você não deu conta.Você não foi capaz de terminar o que lhe foi destinado..
Enfim, após acompanhamento e medicação médica mais ajuda carinhosa dos amigos,estou quase boa de tudo.Quase 1 ano de tratamento, sinto vontade de criar um blog e estou até cantando no chuveiro.

Companheira Dolly


03/06/08 Companheira

Cheguei agora da escola e sabendo que não sairei mais, não preciso me afobar pra nada, peguei a Dolly e a levei até a janela pra respirar o ar da noite.Foi como um pedido de desculpas por te-la deixado sozinha por quase o dia inteiro.Isto tem ocorrido nos últimos meses.Dolly é a minha cadela.Ela é dócil, amorosa mas se comporta de modo muito carente.Dá conta de todos os moradores do andar.Ela entende ser sua função latir e avisar sobre todas as saídas e entradas dos vizinhos.Para parar de latir grito: “...é o vizinho!”Imediatamente fica em silencio.Porém se for na minha porta, se é visita ou alguém em especial pra mim,ela não dá a menor atenção para o meu grito, continua latindo e vem a mim e torna a latir e ai então, sei.É visita chegando.Não é incrível?Porém, como disse acima, é muiiiiiiiito carente.A partir do momento que algum ser ultrapassa o nosso portal, ela fica incoviniente de tanta festa e quer subir no colo e fica insistindo para ser atendida e ter toda atenção. Então, me lembro de comentários sobre o cão ser o reflexo do dono e
fico constrangida imaginando se as visitas também ouviram tal comentario. Tento por ordem no recinto dizendo 4 palavras :”coisa triste e feia.Fora.”Ela se vinga me olhando com olhar doído de mágoa e com orelhas abaixadas se afasta,sempre me olhando fundo pra eu ficar me sentindo bem culpada.Este comportamento quer dizer:”que ingratidão! Procuro te cercar de amor, transmitir isto para aqueles que julgo seus amigos; quero agrada-los porque julgo que te amam como eu a amo e é assim que você agradece...”Sua ingrata.Sai pouco comigo, vai cuidar dos seus interesses e me esquece por horas a fio e sempre a recebo com honras...e agora me sinto contente por nossa solidão ser colorida com vozes,energias,risadas e...”
E é este ser que tem acompanhado toda a minha trajetória nestes últimos meses.É este ser que tem acompanhado minhas lágrimas rolando, meus medos, minhas inseguranças diante de momentos conflituosos e choques insistentes de acontecimentos desagradáveis,embora,aparentemente bobos mas que se tornaram verdadeiras muralhas.
Sabe o que está me surpreendendo?É a repetição de noticias desagradaveis.pelo amor de Deus! Um contra aqui e outro na semana que vem ou no mês que vem...a gente agüenta...mas,num dia só uma avalanche initerrupta de surpresas ruins, numa semana,juntando tudo cansa.Num mês, se não existisse a Dolly,juraria que o mundo inteiro está contra mim.As vezes penso ser a Dolly,uma amiga de muitas eras que se materializou numa outra espécie de ser nesta dimensão.